Resenha de CD
Título:Policromo
Artista: 5 a Seco
Gravadora:Edição independente do artista
Cotação:* * * 1/2
Título:Policromo
Artista: 5 a Seco
Gravadora:Edição independente do artista
Cotação:* * * 1/2
"No badauê / Tristan tzara / Pirou no dadá / Ou endoidou". Tirada de onda com os termos inventivos de algumas letras da música brasileira, a canção Eu amo Djavan (Tó Brandileone e Ricardo Teté) - uma das 14 músicas inéditas do primeiro álbum de estúdio do grupo paulistano 5 a Seco, Policromo - enfileira palavras estranhas ouvidas em hits de nomes com Caetano Veloso, Chico César, Maria Gadú e a dupla Toquinho & Vinicius ao mesmo tempo em que dá a pista das influências e referências utilizadas pelo quinteto na composição de seu repertório autoral. Álbum gravado em São Paulo (SP) de 25 de fevereiro a 12 de março de 2014, com patrocínio obtido no projeto Natural Musical, Policromo confirma a sintonia de Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni com o universo musical da MPB dos anos 1970 e - sobretudo - com a música pop brasileira mais contemporânea que também bebeu na fonte da MPB e que se impôs a partir dos anos 1990. É nítida, por exemplo, a influência da obra do compositor pernambucano Lenine na arquitetura da canção que abre o disco, Épocas (Pedro Viáfora), e em menor grau em Geografia sentimental (Leo Bianchini e Vinicius Calderoni). E não é por acaso que o 5 a Seco estabelece conexão com outro expressivo nome da geração de Lenine, Lula Queiroga, parceiro de Tó Brandileone na apaixonada e delicada canção Ninguém nem eu. Só que o 5 a Seco não reabre o pano do passado. Confiada a Alê Siqueira, a produção de Policromo recusa ares nostálgicos e cria sonoridade que se afina com os dias de hoje, embora distante da estética da cena contemporânea paulistana. De todo modo, uma canção como Você e eu (Pedro Altério e Rita Altério) ecoa referências de Caetano Veloso e Chico César. Já Nhem tchum sobressai pela engenhosa letra verborrágica de Celso Viáfora, parceiro de Leo Bianchini no tema que lista (im)possibilidades mais prováveis do que a morena mais difícil cair na rede do protagonista da canção. Também verborrágica, Fiat lux (Vinicius Calderoni) é música tensa que tangencia a forma do canto falado sem emular clichês do hip hop e que expõe a ligeira superioridade de Vinicius Calderoni sobre seus colegas na arte da composição. De todo modo, Policromo tem o mérito de ser um disco coeso que investe na canção. A sonoridade urdida pelo produtor Alê Siqueira com unidade contribui para o êxito do disco, mas parece posta sobretudo a serviço de canções como Vem e vai (Tó Brandileone e Vinicius Calderoni) e O sonho (Pedro Altério e Tó Brandileone). São músicas que, a exemplo da funkeada e sincopada Festa de rua (Leo Bianchini, Pedro Altério e Pedro Viáfora), reprocessam elementos da MPB e do pop nativo na busca de identidade artística própria, pessoal. "Escuto histórias das estrelas / Enquanto recolho ideias que / Repousam ao rés do chão", dizem versos de Não tem paz (Vinicius Calderoni), outra expressiva música de Calderoni calcada nas tensões contemporâneas. Mesmo sem impressionar, Policromo confirma a boa expectativa gerada por Ao vivo no Auditório Ibirapuera (Independente, 2012), o combo duplo de CD e DVD que apresentou o 5 a Seco ao mercado fonográfico há dois anos. O bom nível do repertório é o mesmo, sinalizando que o quinteto ama não somente Djavan, mas também Lenine, Chico César e outros nomes que pavimentaram a estrada da música brasileira trilhada pelo 5 a Seco.