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Channel: Notas Musicais
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Força dos intérpretes não deve ser minimizada no reino dos 'cantautores'

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EDITORIAL - Música forte e comunicativa do compositor baiano Luciano Salvador Bahia, lançada na voz do autor (em dueto com Eduardo Dussek) no seu álbum Abstraia, baby (Dubas, 2014), Tango do mal foi salva do ostracismo ao ganhar a voz potente de Simone Mazzer - em foto de Rodrigo Ferdinand - em gravação que abre o recente primeiro álbum solo da cantora paranaense, Férias em videotape (Dubas, 2015), e que explora todas as nuances da letra com interpretação precisa. Posta em rotação na trilha sonora da novela Babilônia (TV Globo, 2015), a gravação de Tango do mal por Mazzer é exemplo de como a força de um intérprete não deve ser menosprezada na era dos cantautores. Outro exemplo recente do poder de uma voz reside na faixa que abre o segundo álbum da cantora carioca Alice Caymmi, Rainha dos raios (Joia Moderna, 2014). Música de grande força dramática, Como vês (Domenico Lancellotti e Bruno Di Lullo, 2013) jazia submersa na gravação sem vida feito pelo grupo carioca Tono em seu terceiro álbum, Aquário (Independente, 2013). O registro de Alice revitalizou a música, impactou a cena indie e foi parar na trilha sonora de minissérie exibida pela TV Globo no início do ano, Felizes para sempre? (TV Globo, 2015), veiculando em escala nacional uma gravação que evidencia a química explosiva resultante da combinação da música certa com o intérprete adequado. Outros exemplos do poder de um intérprete podem ser conferidos em É, o experimental primeiro álbum de Duda Brack, lançado neste mês de abril de 2015. Cantora gaúcha radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Brack valoriza músicas de compositores - César Lacerda e Dani Black, por exemplo - que são mais cantautores do que cantores (sobretudo César). Projetados a partir da era dos festivais que mobilizaram a música brasileirano fim dos anos 1960, cantautores são bem-vindos em qualquer época. Compositores, às vezes, podem não ter aquela voz, mas, como criadores, conhecem o sentido de cada verso que cantam. E há aqueles que, independentemente de serem grandes compositores, também são grandes cantores (casos de Caetano Veloso e do divino Milton Nascimento, para citar dois exemplos de artistas projetados na era dos festivais). De todo modo, o modelo atual de música feita e veiculada via web favorece a figura do cantautor e pode ser bem aproveitada por intérpretes. A cantora e compositora paulistana Tulipa Ruiz é caso recente de artista que se destaca tanto pela produção autoral quanto pela habilidade vocal. Mas o fato é que vigora há anos o reinado do compositor que canta - com ou sem dotes vocais. Só que a figura de um intérprete - como o excelente Filipe Catto, melhor cantor do que compositor - jamais deve ser minimizada na era dos cantautores. Um intérprete sagaz é até capaz de tornar uma música maior do que ela é. Duda Brack é exemplo de cantora que toma para si músicas que, em vozes mais opacas, talvez passassem despercebidas. O ideal é que intérpretes e cantautores convivam em harmonia no pulverizado mercado fonográfico nativo,  sem que um seja anulado em favor do outro.

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