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Kleiton & Kledir se reciclam em álbum criado com letras de escritores do Sul

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Resenha de CD
Título:Com todas as letras
Artista: Kleiton & Kledir
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Há 40 anos, em 1975, Kleiton & Kledir deram seu primeiro significativo passo fonográfico com a edição do primeiro álbum do grupo gaúcho Almôndegas, do qual os irmãos Ramil faziam parte, ainda longe demais das capitais. Já naquela época surgiu a ideia de fazer uma música a partir de texto ou poema do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu (1948 - 1996). A ideia somente foi concretizada 20 anos depois, em 1995, quando Caio lançou o livro Ovelhas negras, coletânea de textos escritos entre 1962 e aquele ano de 1995. O livro incluía Lixo e purpurina, conto sobre marginalização social escrito por Caio em Londres, na Inglaterra, nos anos 1970. Transformado em letra de música, com a liberdade e o aval dados por Caio, o texto deu origem à canção também intitulada Lixo e purpurina. Decorridos mais 20 anos, Lixo e purpurina ganha, enfim, o mundo no 12º álbum da dupla gaúcha, Com todas as letras, em gravação feita com a adesão da cantora conterrânea Adriana Calcanhotto. Projeto ambicioso da dupla, o álbum foi construído a partir da musicalização de letras de escritores do Sul do Brasil. Só que, no geral, em vez de musicarem textos já prontos, Kleiton & Kledir criaram melodias em cima de textos inéditos criados para virarem música a pedido deles. O processo de criação está documentado no DVD dirigido e roteirizado por Gustavo Fogaça. O DVD vem juntamente com o CD produzido por Christiaan Oyens e recém-distribuído pela gravadora Biscoito Fino. Mesmo que Kleiton & Kledir não atinjam o alto grau de inspiração de seu último projeto fonográfico feito em estúdio, o disco infantil Par ou ímpar (Selo Biscoitinho / Biscoito Fino, 2011), a dupla alcança bom resultado neste harmonioso Com todas as letras. Há simbiose entre músicas e textos. Melodias e versos parecem ajustados de forma natural. Vale destacar Mistérios do bule monstro (Brincando na praça dos enforcados), música feita sobre texto de Lourenço Cazarré cujo universo fantasmagórico remete à Canção da meia-noite (Zé Flávio, 1975), único sucesso em escala nacional do grupo Almôndegas. A melodia de Pingos nos is tem o acento pop e coloquial da prosa da escritora Martha Medeiros. Já Rochas - faixa que embute o canto falado do autor da letra, Paulo Scott, sem simular a batida do rap - é a gravação de tom mais contemporâneo. Já a atualidade de Felizes para sempre está mais na letra de Claudia Tajes, que narra romance que teve começo, meio e fim no espaço de um único dia. A melodia graciosa da dupla acompanha o tempo dos versos. O toque da guitarra e do violão de Daniel Galera - autor da letra Vinte e oito escovas de dentes - faz a diferença da faixa mais pelo fato de promover a interação do escritor com a música além da criação da letra. A faixa é outro trunfo de Com todas as letras, álbum que também traz textos de Letícia Wierzchowski (Piscina, cujos versos mostram uma mãe - a autora - se refletindo no filho através da prática da natação) e de Luis Fernando Veríssimo (Olho mágico, terceira incursão do escritor no mundo da música). Enfim, Com todas as letras mostra Kleiton & Kledir em pleno exercício criativo, fora da zona de conforto.  Aos 40 anos de carreira, os irmãos Ramil parecem guris em estado de excitação juvenil.

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