♪ Cronista hábil, Zeca Baleiro escreveu um texto em que repisa as trilhas que o levaram em 2013 a abordar o cancioneiro do compositor paraibano Zé Ramalho em show (leia resenha) que, gravado ao vivo, gerou o CD e DVD Chão de giz- Zeca BaleirocantaZé Ramalho. Eis o texto escrito pelo multimídia artista maranhense para apresentar o produto recém-lançado pela gravadora Som Livre:
Espalho coisas sobre um chão de giz
ou... De Zeca, para Zé
por Zeca Baleiro
"Em julho de 2013, recebi o convite para cantar a música de Zé Ramalho na segunda edição do projeto BB Covers. Fiquei feliz e honrado com o convite. Fui (e sou) fã ardoroso da música do Zé, assim como de toda a geração Nordeste 70, ou como queiram chamar a turma que sacudiu a música brasileira naquela década, egressa de Pernambuco, Paraíba e Ceará. Mas também fiquei preocupado com a associação, tenho que confessar. Já tinha partilhado CD e DVD com Fagner, outro nome essencial da mesma cena, anos atrás. À época do lançamento do meu primeiro disco, parte da imprensa havia traçado paralelos reducionistas entre a minha geração e aquela. E eu anunciado como “o novo Zé Ramalho” por alguns. Ora, nenhum artista que preze a própria persona artística deseja ser chamado de “o novo alguém”, seja esse alguém Zé Ramalho, Bob Dylan ou Tom Jobim. Óbvio que havia (e há) muitos pontos de contato entre as duas gerações, assim como entre a minha música e a do bardo paraibano, sobretudo, neste caso, o amor ao cordel e à musica folk. Mas a comparação advinha principalmente, desconfio eu, da semelhança, digamos, conceitual, que havia entre Heavy metal do senhor, música que abria o meu primeiro disco, e A peleja do diabo com o dono do céu, canção-título do segundo disco do Zé.
Portanto, era natural que eu pensasse duas vezes antes de aceitar o convite. A própria Monique Gardenberg, uma das curadoras do projeto - que viria a dirigir o DVD com pegada tão sombria quanto poética - hesitou depois de me lançar a oferta. Em longas conversas por telefone, divagamos sobre outros artistas cujas obras eu teria gosto de cortejar. Martinho da Vila, Sergio Sampaio, Luiz Melodia, Tom Zé e Jackson do Pandeiro foram alguns nomes que surgiram como possibilidade. Mas o germe do desafio já estava plantado em minha alma. Passei dias ouvindo e reouvindo a música ramalheana, redescobrindo velhas belezas, conhecendo outras que haviam me escapado. Passei a considerar a ideia novamente -'Que belo tributo esse show poderia render!', pensava eu com meus bótons.
A audição dos seus primeiros discos me remeteu ao tempo em que eu começava a tocar um instrumento, e todo aquele repertório se reacendeu na minha memória como a chama de um fósforo: Chão de giz, Vila do sossego, Taxi boy, A terceira lâmina e tantas outras canções, algumas das quais ficariam de fora do repertório por critérios extramusicais, como Adeus segunda-feira cinzenta, Meninas de Albarã, Canção agalopada e Galope rasante, todas da lista das minhas prediletas. Num trabalho que pretendia ser tributo à obra de um compositor, eu tinha que pesar gosto pessoal com outros fatores, como a importância histórica e o alcance popular das canções, bem como o perigo da redundância. Não posso dizer que tenha sido fácil o processo, mas me rendeu muitas horas de prazer e deleite. Até o fim, ouvi novas obras-primas e redescobri pérolas esquecidas em lados B de velhos vinis. Foi assim que cheguei a esse repertório, que considero uma mostra generosa da música de Zé Ramalho, um artista / poeta inquietante e essencial."
Portanto, era natural que eu pensasse duas vezes antes de aceitar o convite. A própria Monique Gardenberg, uma das curadoras do projeto - que viria a dirigir o DVD com pegada tão sombria quanto poética - hesitou depois de me lançar a oferta. Em longas conversas por telefone, divagamos sobre outros artistas cujas obras eu teria gosto de cortejar. Martinho da Vila, Sergio Sampaio, Luiz Melodia, Tom Zé e Jackson do Pandeiro foram alguns nomes que surgiram como possibilidade. Mas o germe do desafio já estava plantado em minha alma. Passei dias ouvindo e reouvindo a música ramalheana, redescobrindo velhas belezas, conhecendo outras que haviam me escapado. Passei a considerar a ideia novamente -'Que belo tributo esse show poderia render!', pensava eu com meus bótons.
A audição dos seus primeiros discos me remeteu ao tempo em que eu começava a tocar um instrumento, e todo aquele repertório se reacendeu na minha memória como a chama de um fósforo: Chão de giz, Vila do sossego, Taxi boy, A terceira lâmina e tantas outras canções, algumas das quais ficariam de fora do repertório por critérios extramusicais, como Adeus segunda-feira cinzenta, Meninas de Albarã, Canção agalopada e Galope rasante, todas da lista das minhas prediletas. Num trabalho que pretendia ser tributo à obra de um compositor, eu tinha que pesar gosto pessoal com outros fatores, como a importância histórica e o alcance popular das canções, bem como o perigo da redundância. Não posso dizer que tenha sido fácil o processo, mas me rendeu muitas horas de prazer e deleite. Até o fim, ouvi novas obras-primas e redescobri pérolas esquecidas em lados B de velhos vinis. Foi assim que cheguei a esse repertório, que considero uma mostra generosa da música de Zé Ramalho, um artista / poeta inquietante e essencial."