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Discobiografia de Ivone revela pré-história da vida e obra da dama do samba

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Resenha de livro
Título:DonaIvone Lara-A Primeira-dama do samba
Autor: Lucas Nobile
Editora: Sonoras
Cotação: * * * *

Se o jornalista Lucas Nobile somente tivesse detalhado a gênese de cada um dos 12 álbuns de Ivone Lara, o autor da discobiografia da cantora e compositora carioca - livro escrito para integrar a quarta edição do Sambabook, o projeto multimídia da empresa Musickeria - já teria prestado relevante serviço à bibliografia musical brasileira. Afinal, o descaso da indústria do disco com a obra fonográfica da artista é tamanho que vários títulos nobres de sua discografia - como Samba minha verdade, samba minha raiz (EMI-Odeon, 1978), Sorriso de criança (EMI-Odeon, 1979) e Ivone Lara (Som Livre, 1985) - jamais ganharam reedição no formato de CD. Sem falar que os dois últimos - Bodas de coral no samba brasileiro (Independente, 2010), álbum assinado com o parceiro Délcio Carvalho (1939 - 2013), e Baú da Dona Ivone (Independente, 2012) - sequer tiveram distribuição comercial. Só que Nobile vai além. Além de discorrer sobre os discos em si, dedicando um capítulo a cada álbum, o jornalista revela a a pré-história de Ivone Lara, agregando valor documental ao livro. Até porque essa pré-história é longa. É que 40 anos separam a criação da primeira composição de Ivone - o partido alto Tiê (Ivone Lara, Mestre Fuleiro e Tio Hélio, 1934), feito aos 12 anos em clima familiar - e a chegada do sucesso em 1974, ano em que Tiêganhou seu primeiro registro fonográfico no álbum coletivo Quem samba, fica? Fica (EMI-Odeon) e ano em que a cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) gravou com sucesso o samba Alvorecer, uma das muitas obras-primas da lírica parceria de Ivone com Délcio Carvalho. O maior mérito do livro é contar a vida de Ivone Lara até esse momento de reconhecimento. Com rigor jornalístico, Nobile esclarece fatos fundamentais da biografia da artista. O mais relevante é a exposição do correto ano de nascimento de Ivone, 1922 - e não 1921, como se pensava até então e como consta na quase totalidade das publicações oficiais sobre a sambista. Nesse caso, o erro coletivo tem justificativa: a mãe de Ivone forjou outro ano de nascimento para a filha com o objetivo nobre de lhe acrescentar um ano de vida e, assim, permitir a entrada da então adolescente Ivone em colégio interno. Outra informação relevante é que, sem deixar de ressaltar o pioneirismo de Ivone ao abrir alas para as mulheres no mundo machista do samba (e das escolas de samba), o autor revela que, a rigor, a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola foi Carmelita Brasil, em 1959, na Unidos da Ponte. O que não diminui o feito de Ivone de ter entrado em 1965 para a ala de compositores da escola Império Serrano - então uma das quatro grandes do Carnaval carioca ao lado de Mangueira, Portela e Salgueiro - com sua assinatura no samba-enredo Os cinco bailes da história do Rio (Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau, 1965), há 50 anos.  Enfim, Ivone Lara - formada enfermeira em 1942, profissão que lhe garantiu o sustento pré-fama e uma aposentadoria ainda em vigor - teve uma vida bastante agitada antes de ingressar na carreira artística, a partir de 1970 (ano de sua primeira gravação em disco). Em seus capítulos iniciais, DonaIvone Lara- A primeira-dama do samba reconta os fatos mais marcantes dessa vida, rememorando estripulias infantis e a criação da escola Prazer da Serrinha, na qual Ivone chegou a desfilar como porta-bandeira. Quando parte para analisar os discos da compositora que se tornou cantora nos anos 1970, Nobile não abre mão do espírito crítico, apontando com elegância as músicas e os títulos menos inspirados. Por mais que cometa uma imprecisão ao sentenciar o ineditismo de Candeeiro da vovó (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1996) na ocasião da gravação do álbum Bodas de ouro (Sony Music, 1997), ignorando que o samba já tinha sido lançado em disco um ano antes pelo grupo carioca Toque de Prima, o autor apresenta (disco)biografia  à altura da importância de Ivone Lara.

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