Resenha de CD
Título:Do tamanho certo para o meu sorriso
Artista: Fafá de Belém
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * 1/2
Título:Do tamanho certo para o meu sorriso
Artista: Fafá de Belém
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * 1/2
♪ No texto que escreveu para o encarte de seu 25º álbum, Do tamanho certo para o meu sorriso, Fafá de Belém dedica ao povo "livre, leve e solto" do Brasil o disco com que comemora 40 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1975 com a gravação do samba baiano Filho da Bahia (Walter Queiroz) para a trilha sonora da novela Gabriela. À venda no iTunes a partir da próxima quinta-feira, 20 de agosto de 2015, o disco é a cara de Fafá e a cara desse povo brasileiro que se deixa seduzir por músicas grandes e pequenas com a mesma paixão. Idealizado pela cantora paraense com o DJ Zé Pedro, Do tamanho certo para o meu sorrisoé disco que traz algumas músicas menores do que o canto caloroso e despudorado da intérprete. Mas Fafá amplia essas músicas na gravação pilotada por Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro - pai e filho, guitarristas projetados em diferentes momentos da cena musical do Pará - e as põe do tamanho largo do seu sorriso, da gargalhada que a identifica no imaginário nacional tanto quanto sua voz. Mas, sim, há ao menos uma grande música entre as dez faixas deste disco de tom tecnobrega, formatado somente com as guitarras, as programações, o baixo sintetizado e os teclados pilotados por Felipe e/ou Manoel Cordeiro. Música do cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker, propagada na trilha sonora do filme Tatuagem (Brasil, 2013), Volta encontra em Fafá a perfeita intérprete passional. Acertadamente escolhida como primeiro single do álbum, a gravação de Voltaé momento antológico na discografia dessa cantora que sempre encarou de peito aberto as emoções mais quentes do amor. Voltaé canção de coração despedaçado, de amante humilhado, veículo ideal para essa cantora que lançou o bolero Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977) e a canção Abandonada (Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle, 1996). Canção de amor sem pudor, Voltaé a trilha sonora do vitrolão do Brasil de dentro. O Brasil interiorano que Fafá percorre em Asfalto amarelo, parceria inédita de Zeca Baleiro com Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro. Asfalto amareloé o convite de Fafá - feito já na abertura do disco - para que seu público livre, leve e solto venha com ela nessa viagem por municípios do Pará. Sim, Do tamanho certo para o meu sorrisoé disco de alma paraense que reconecta ao Fafá aos sons de sua região natal. É álbum de tom contemporâneo que faz sentido na discografia de uma cantora que, décadas após o auge produtivo do compositor paraense Waldemar Henrique (1905 - 1995), repôs os sons e os signos de sua região no mapa musical do Brasil com seu álbum de estreia, Tamba-tajá (Polydor, 1976). Por isso mesmo, é legítimo que o repertório inclua regravação de Ao pôr do sol (Firmo Cardoso e Dino Souza, 1987), tema leve de romantismo explícito que o povo paraense conheceu na voz do cantor santarense Teddy Max (1954 - 2008). Leve ou pesado, o amor sempre foi a principal matéria-prima do repertório de Fafá, cantora que sempre expressou publicamente sua admiração pela cantora fluminense Angela Maria, voz egressa da era do rádio. Por isso, também faz sentido neste disco a regravação de Usei você, abolerada canção do compositor mineiro Silvio César lançada pela Sapoti em álbum de 1971. Como Angela, Fafá é cantora talhada para repetir versos como "Usei você / Mas quem se desgastou fui eu". Apesar do tom tecnobrega do arranjo, Usei vocêé música que se alinha com a face mais popular da discografia de Fafá - assim como Meu coração é brega, tema (de menor poder de sedução) da obra de Veloso Dias, compositor de Ex mai love (2012), sucesso da paraense Gaby Amarantos. O mundo da MPB pode até dizer não, mas, tem jeito não, o coração brega da cantora pulsa no compasso de músicas sentimentais e diretas que falam a língua do povo livre, leve e solto do Brasil. Por isso, faz sentido - mais uma vez - que o repertório deste álbum pop e popular rebobine dois sucessos do repertório da banda paraense Sayonara, Quem não te quer sou eu (Firmo Cardoso e Nivaldo Fiúza, 2002) - de refrão pegajoso - e Os passa vida (Osmar Jr. e Rambolde Campos, 2004), música menos envolvente que exala o cheiro do Pará. Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro entendem o espírito dessas músicas e agregam valor a elas com seus beats e guitarras. Fafá não faz por menos e se joga de corpo e alma na interpretação deste repertório popular, aumentando o quilate de Pedra sem valor, inédita fornecida pela cantora e compositora paraense Dona Onete, voz veterana do Norte do Brasil. Quente como essas músicas, a voz de Fafá conserva - aos 59 recém-completados anos - o brilho de um verdadeiro brilhante. Mesmo quando a pedra é falsa, a cantora é de verdade. Convite à dança, feito no ritmo de merengue aditivado com guitarrada, Vem que é bom (Ronery e Manoel Cordeiro, 1990) - sucesso da banda paraense Warilou, na estrada há mais de duas décadas - reitera o tom expansivo de um disco que fecha com releitura turbinada, em clima de lambada e guitarrada, de O gosto da vida (Péricles Cavalcanti, 1982), música de cuja letra foi extraído o feliz título Do tamanho certo para o meu sorriso. A faixa embute a sonora gargalhada da artista. Primeiro álbum de estúdio de Fafá em dez anos, Do tamanho certo para o meu sorriso sai também em edição física em CD - no mercado até o fim deste mês de agosto de 2015 - e é veículo para essa cantora de Belém refazer seu Carnaval, entre dilaceradas canções de amor, com um tempero mais moderno, um suingue brasileiro e uma alegria em seu coração assumidamente passional. Se você não sabe, ela ainda é Fafá, de Belém e do Brasil.