Resenha de CD
Título:Cores do Brasil
Artista:Dá no Coro
Gravadora:Edição independente do artista
Cotação:* * * 1/2
Título:Cores do Brasil
Artista:Dá no Coro
Gravadora:Edição independente do artista
Cotação:* * * 1/2
♪ Coletivo carioca formado por 16 vozes, harmonizadas sob a direção de Sérgio Sansão, Dá no Coro segue os tons herdados das tradições dos grupos vocais nacionais como Garganta Profunda em Cores do Brasil, álbum inspirado nas pinturas do artista plásticos Paulo Symões (cujos quadros são reproduzidos em dez postais encartados no encarte duplo do disco). Neste segundo álbum, produzido por Sansão, o Dá no Coro dá vozes a 10 músicas do cancioneiro brasileiro, criadas por compositores lamentavelmente não creditados na luxuosa arte gráfica de Cores do Brasil. As vozes são harmonizadas com sofisticação por maestros experientes neste gênero de arranjo - André Protasio, Augusto Ordine, Flávio Mendes, Kodiak Agüero, Paulo Malaguti Pauleira e Zeca Rodrigues - em gravações às quais foram adicionadas percussões, baixo (o de Pedro Sabino) e violão (o de Maurício Teixeira). Base que sustenta a abordagem do afro-samba Água de beber (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), a interação das vozes com as percussões é uma das marcas do Dá no Coro, grupo criado em 2004 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Alocada na abertura do disco, a leitura de Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977) já ostenta a vibração típica de grupos vocais. A propósito, a obra épica e mineira do carioca Milton Nascimento favorece tais vocalizações. E não é por acaso que a segunda das dez músicas do disco, Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1968), também é da lavra original de Bituca. Em Vera Cruz, o Dá no Coro acertadamente baixa a voltagem da alegria para realçar - ainda que na superfície da emoção - a tristeza embutida em versos embebidos em pranto e dor. Já Tuaregue nagô (Lenine e Bráulio Tavares, 1993) evoca no canto solo da abertura e no arranjo toda a negritude ancestral e africana que envolve a composição - o próprio Brasil - e também o jongo Vapor da Paraíba (Mestre Fuleiro e Vovó Tereza), tema do repertório do grupo carioca Jongo da Serrinha que o Dá no Coro sustenta com sua forte base percussiva. De arquitetura mais branca, Casa forte (Edu Lobo, 1966) é tema instrumental que o Dá no Coro leva em frenéticos vocalises. Em tempo de maior delicadeza, Lua girou orbita no tom de lirismo popular deste tema do folclore brasileiro recolhido na região de Beira-Rio, na Bahia. Por sua vez, o molho latino da salsa Tanta saudade (Chico Buarque e Djavan, 1983) poderia ter seu delicioso gosto mais realçado no registro do Dá no Coro. O tempero ardido do samba Linha de passe (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1979) soa mais no ponto. No fecho do disco, o grupo reveste Fantasia (Chico Buarque, 1979) de vozes inicialmente femininas de tons quase melancólicos. Mas, à medida que a faixa avança, vozes femininas e masculinas se harmonizam para evidenciar a alegria, a graça, a esperança e o gozo que pautam o tema de Chico Buarque e, em diferentes graus, as dez músicas deste disco vívido. Músicas que dão no coro com as vozes e com as percussões alinhadas pelo Dá no Coro em Cores do Brasil, disco de tons cintilantes.