Resenha de CD
Título:#Sarniô
Artista:Naldo Benny
Gravadora:Naldo Music/ Radar Records
Cotação:* * * 1/2
Título:#Sarniô
Artista:Naldo Benny
Gravadora:Naldo Music/ Radar Records
Cotação:* * * 1/2
♪ Nego do Borel que se cuide, pois Naldo Benny está chegando novamente no pistão com fôlego renovado. Sensação pop do verão de 2012, o carioca Ronaldo Jorge Silva sinalizou no fim de 2013, em CD e DVD editados pela gravadora Deck na série Multishow ao vivo, que seu repertório autoral já parecia sem força para encarar o verão de 2014. A pista era certa. Enquanto o funk pop carioca virava o ritmo do momento, a reboque do sucesso nacional de Anitta, o cantor e compositor parecia preso ao verão em que o Brasil se lambuzou com hits como Amor de chocolate (Naldo Benny, 2011) e Exagerado (Naldo Benny, 2011). Mas eis que Naldo vira o jogo com seu melhor disco, um segundo álbum de estúdio que iria se chamar Mix, mas acabou batizado com gíria da Favela da Maré que significa "fazer algo bem feito". ou "mandar bem", numa linguagem mais coloquial. E o fato é que #Sarniô - disco gravado no estúdio caseiro de Naldo, o Champs 19 - faz jus ao seu título, inclusive por agregar nomes de peso no universo pop nacional como Erasmo Carlos e Mano Brown, o geralmente invocado vocalista do grupo paulista de rap Racionais MC's. A controvertida capa multicolorida do artista plástico Romero Brito traduz bem o conteúdo do disco, pois o funk pop de Naldo ganha cores mais vivas em #Sarniô por conta da azeitada produção capitaneada pelo próprio Naldo ao lado do DJ Batutinha. O disco é longo. São 17 músicas que totalizam cerca de uma hora. Algumas, como Seu jeito (Naldo Benny) e Tão especial (Naldo Benny e Sandro Riva), soam dispensáveis e sugerem que o artista poderia estar lançando seu primeiro grande álbum se tivesse cortado uma faixa ou outra. Mas há, sim, alguns grandes momentos em #Sarniô. O encontro de Naldo com o cantor do Racionais MC's em Benny e Brown (Naldo Benny e Mano Brown) já vale o disco por dar um beijinho no ombro dos recalcados racistas do Brasil. Fusão de funk e rap, a música aloca dois negros vindos da favela em rolê em carrão que segue a trilha das principais referências da cultura black brasileira na rota Rio-São Paulo, jogando ao vento e na cara dos racistas o orgulho negro de ouvir Tim Maia (1942 - 1998) e Jorge Ben Jor. Pai do funk-soul brasileiro, Tim tem verso ("Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir") de sua canção Azul da cor do mar (1970) citado por Naldo em Luz (Naldo Benny), cintilante funk jogado na pista do dance-pop - a mesma na qual o artista-produtor arremessa Latinha (Naldo Benny). Com produção acima da média dos discos do gênero, #Sarniô tem um hit nato em Meu bem (Naldo Benny), funk de perfeita arquitetura pop que sobressai na safra autoral do disco. Mesmo que as composições do funkeiro soem por vezes repetitivas, elas são valorizadas em #Sarniôpela produção esperta. Naldo Benny mandou muito bem ao convocar a dupla norte-americana (de Miami) The MeKanics para criar as bases luminosas que valorizam a música-título Sarniô (Naldo Benny) - faixa que ostenta o paulista MC Guimê e o carioca Mr. Catra e que se impõe como outro grande momento do disco - e Sem fim (Naldo Benny). Verdade seja dita: Naldo volta para a pista com um repertório formatado com certa diversidade rítmica. Se Eu tô voltando (Naldo Benny e Sandro Riva) é r&b de alma soul, Baile (Naldo Benny) entra no rala quente da batida do trap. E por falar em rala quente, Nu grau (Naldo Benny e MC PJ) tem alta carga erótica, aditivada pelo rap de Pablo Jorge, o MC PJ, que vem a ser filho de Naldo. Em clima igualmente familiar, mas sem erotismo, Minha Victória (Naldo Benny) é bonita balada à moda clássica composta por Naldo para sua recém-nascida filha Victória. Sucessor do álbum Na veia (Deck, 2009) na discografia de estúdio do artista em formato físico, #Sarniô desperdiça a participação de Erasmo Carlos em Primeira vez (Anselmo Ralph e Aires). O Tremendão encarna somente o interlocutor que ouve Naldo falar de seus dilemas sexuais com a namorada. Erasmo ouve muito e fala pouco. Ainda assim, a presença do cantor e compositor carioca - pioneiro roqueiro brasileiro - em #Sarniô cumpre a função de avalizar Naldo Benny numa época em que o funk pop é tão marginalizado pelas elites culturais quanto a Jovem Guarda foi há 50 anos. #Sarniô peca pelo excesso, inclusive por rebobinar músicas já lançadas pelo artista, casos de Faz sentir (Naldo Benny, Daniel de Almeida e Marcos Leandro Nascimento, 2013) - gravada com a participação da cantora norte-americana K. Rose - e de Te pego de jeito (Naldo Benny, 2014), carro-chefe do EP digital Verão (Naldo Music / Benny Entertainment, 2014) lançado pelo cantor no fim de 2014. Embora com faixas demais, #Sarniô revigora o funk pop de Naldo, honrando o título.