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Channel: Notas Musicais
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Samba gravado por Pitta com Ana e Elza reforça o bloco do estereótipo gay

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Resenha de single
Título:Será?!
Artista: Rodrigo Pitta
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *


"Vamos abrir devagarinho a porta de cada armário do Brasil!!". O grito carnavalesco dado por Rodrigo Pitta na introdução de Será?! - samba lançado em single posto ontem, 2 de fevereiro de 2016, em rotação no YouTube - já esconde, atrás do armário da brincadeira de Carnaval, a ideia de que gays precisam necessariamente se assumir publicamente. Mas o samba segue outro bloco, tão preconceituoso quanto. Será?! vai atrás do bloco do estereótipo gay que rotula e carimba cidadãos por seguirem determinados padrões de comportamento e estilo. Paulistano, Pitta é um diretor de teatro que vem tentando se fazer ouvir como cantor e compositor desde que lançou há três anos o primeiro álbum, Estados alterados (Som Livre, 2013), sem chamar atenção de público e crítica. Na gravação de Será?!, Pitta recorre a Ana Carolina e a Elza Soares para tentar conseguir tal atenção. As cantoras participam da gravação, como anunciado na capa tropicalista do single. De tom carnavalesco, o samba segue sem inventividade a cartilha do gênero, com sutis toques eletrônicos, com direito a um refrão popular - "Deve ser viado / Deve ser viado / Porque homem tão perfeito / Tá falando no mercado" - e a um punhado de clichês na letra que versa sobre um cara alvo de especulações sobre suposta homossexualidade por se ajustar ao figurino do homem perfeito e polido. É inacreditável ouvir Ana Carolina dar voz a versos como "Essa Coca é mais para Fanta" e "Esse cravo cheira a rosa". Elza tem participação mais discreta na gravação produzida por Arto Lindsay com Rodrigo Coelho. Mesmo assim, as presenças destas duas grandes cantoras do Brasil - ambas identificadas com a defesa das liberdades sexuais - destoam da postura de ambas como cidadãs. Por mais que seja dado um justo desconto para a brincadeira (afinal, é um samba direcionado para o Carnaval), Será?! reforça o coro já forte dos que rotulam e enquadram gays em esterótipos que, no fundo, somente reiteram o preconceito contra homossexuais. O samba é de autoria do próprio Pitta e vai figurar no segundo álbum do artista, PQP - Porque pop ou Pátria que o pariu, feito sob a coordenação artística de Arto Lindsay, com série de produtores (DJ Mau Mau, Guilherme Kastrup, Kassin, Pedro Bernardes e Tutto Ferraz, entre outros), e previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano de 2016 pela gravadora Som Livre. Rodrigo Pitta pode não até não ter plena consciência disso, mas Será?! - samba que evoca intencionalmente a célebre marcha Cabeleira do Zezé (Roberto Faissal e João Roberto Kelly, 1963), sucesso do Carnaval de 1964 que vem resistindo ao tempo e às folias - colabora para o fechamento dos armários nacionais com trocadilhos infames como "Se o Diabo veste Prada / Esse aqui veste pra dar". Será que Rodrigo Pitta acha que vai conseguir se firmar como cantor e compositor com este samba-factoide?! Difícil!

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