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Channel: Notas Musicais
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Enérgico, Ed Motta cruza em 'Perpetual gateways' ponte que liga soul ao jazz

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Resenha de álbum
Título:Perpetual gateways
Artista: Ed Motta
Gravadora: Must Have Jazz / Membran Entertainment Group
Cotação: * * * * *
 Edição brasileira prevista para ser lançada em 11 de março de 2016 pelo selo Lab 344

A voz de Ed Motta é ouvida somente após os 30 segundos iniciais da balada soul Captain's refusal, primeira das 10 músicas autorais do 12º álbum de estúdio do cantor e compositor carioca. Lançado na Europa e no Japão neste mês de fevereiro de 2016, Perpetual gateways cruza com sofisticação exemplar a ponte que liga o soul ao jazz. Aliás, não é por acaso que Ed divide o álbum em dois lados, à moda dos LPs. Soul gate abrange as cinco primeiras músicas do disco, como se fosse o lado A. Jazz gate abarca as outras cinco, como se fosse o lado B. Contudo, jazz e soul se misturam ao longo das dez músicas inéditas compostas em inglês, solitariamente, pelo próprio Ed Motta - ainda que haja um exuberante predomínio do jazz nas efervescentes quatro músicas finais do álbum Perpetual gateways. The Owner, A town in flame, I remember Julia e Overblow overweight expõem, com pulsação vibrante, o domínio jazzístico de Ed. Perpetual gatewaysé pautado pela mesma excelência técnica do antecessor AOR (Dwitza Music / Lab 344, 2013), mas tem uma energia que inexistia no disco anterior, cantado em português. Há um alma que impede que as belas notas sejam jogadas fora ao longo do disco produzido por Kamau Kenyatta, pianista e saxofonista que dialoga com a música black norte-americana e que está radicado em San Diego, na Califórnia (Estados Unidos), onde Perpetual gateways foi formatado em estúdio de Los Angeles (EUA) com músicos do naipe de Cecil McBee (baixo), Charles Owens (saxofone), Curtis Taylor (trompete), Greg Phillinganes (clavinete), Hubert Laws (flauta), Marvin Smitty Smith (bateria), Patrice Rushen (piano, Rhodes e clavinete), Rickey Woodard (saxofone) e Tony Dumas (baixo). Com esse time de virtuoses, todos à vontade no universo do jazz, Ed esquece os mandamentos do manual para festas, bailes e afins. Em Perpetual gateways, o artista se distancia do pop e faz som vocacionado para o público do exterior. Se Ed segue algum manual, é o do som de Steely Dan, banda norte-americana da década de 1970 que faz jazz fusion com toques de funk e R&B. A influência de Steely Dan está explicitada em faixas como Heritage déjà vu e Hypochondriac's  fun. Contudo, dá para reconhecer a assinatura de Ed Motta nas dez músicas do álbum. A mistura sonora é fina. Afinal, o groove soul-jazzy de Good intentionsé, em última análise, uma depuração do som que Ed já vinha experimentando em álbuns mais radicais como Aystelum (Trama, 2005). Muito do êxito do CD está no fato de a ponte soul-jazz de Perpetual gateways ter curvas. O romantismo da balada Reader's choice se harmoniza com o intimismo jazzy de outra balada - Forgotten nickname, floreada por solo da flauta de Hubert Laws - sem se chocar com a incendiária exuberância orquestral de A town in flame e com a liberdade à moda do bebop que pauta o tema jazzístico The owner. No todo, é como se Ed Motta condensasse as melhores influências musicais - João Donato, Marcos Valle e Stevie Wonder, entre outros nomes - em Perpetual gateways, reverberando o funk e o soul que lhe pauta o caminho desde os tempos da Conexão Japeri, mas seguindo em frente, sem medo de se desviar do trilho pop que lhe deu fama no Brasil. O destino, por ora, conduziu o artista a este disco gravado com perfeição técnica sem diluição da energia, da pulsação e da alma que devem mover todo tipo de música, seja o soul  made in Brasil, seja o jazz misturado dos EUA.

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