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Channel: Notas Musicais
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Ferriani se impõe no jorro vertiginosamente livre do primeiro CD autoral

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Resenha de CD
Título:Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio
Artista: Verônica Ferriani
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *
Disco disponibilizado para download gratuito e legalizado no site oficial da artista

É no tom seco de uma cantadora nordestina que Verônica Ferriani dá voz à Lábia palavra, última das onze músicas de seu surpreendente primeiro disco autoral, Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. Somente o baixo acústico de Marcelo Cabral - produtor do álbum em função dividida com Gustavo Ruiz - acompanha a cantora (e agora compositora) paulista nesta faixa que sela a ótima impressão de CD que, enfim, impõe o nome de Ferriani na cena contemporânea brasileira. Em atividade desde 2004, a cantora debutou no mercado fonográfico nacional cinco anos depois com disco, Verônica Ferriani (independente, 2009), de repertório e interpretações irregulares produzido por BiD. Foi somente ao realçar toda a beleza e esperança contidas na melancólica Manhã de Londres (Taiguara, 1972), em gravação realizada para o tributo A voz da mulher na obra de Taiguara (Joia Moderna, 2011), que Ferriani se revelou uma cantora realmente interessante, embora sua vocação para o canto da MPB já tivesse sido sinalizada em Sobre palavras (Borandá, 2009), CD em que deu voz às parcerias de Chico Saraiva e Mauro Aguiar. Por isso mesmo, nada fazia supor que a guinada dada pela artista em Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio resultasse tão contundente e, sim, interessante. Afinal, a expectativa de um disco de Verônica Ferriani como compositora era baixa, já que em 2012 a artista havia jogado na rede uma música autoral - Tu, neguinha, parceria com a compositora paulista Giana Viscardi - que se mostrara insossa. Mas o fato é que o CD Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio reverte essa baixa expectativa. Sim, é um  disco que merece atenção. Ao assinar sozinha as onze músicas e letras do álbum, Ferriani se revela compositora original no jorro vertiginosamente livre - para aludir a verso de C'est la vie (música composta em português com vocábulos em francês) - da safra autoral de criação aparentemente intuitiva. Nesse ponto, as músicas de Ferriani lembram as de Vanessa da Mata. Embora não haja qualquer parentesco musical entre elas, ambas deixam a salutar impressão de que foram criadas livre de regras, métodos e fórmulas de composição. Parece que vieram ao mundo como um jorro espontâneo e necessário de criação - pista, aliás, dada pelo sugestivo título Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. E talvez seja por isso que músicas como Estampa e só, Zepelim, De boca cheia, Ele não volta mais e Era preciso saber - as cinco composições alocadas na impactante sequência inicial do álbum - soem tão livres, inusitadas, valorizadas por uma pegada pop contemporânea que também não segue receitas. Uma cuíca introduz e pontua Dança a menina sem deixar a faixa cair no samba. A guitarra roqueira de Guilherme Held eletrifica Não é não sem fazer com que a música soe como um rock. Criativos, os arranjos - criação coletiva de Gustavo Ruiz, Marcelo Cabral, Guilherme Held e Sérgio Machado (arregimentado para pilotar a bateria) - contribuem para a coesão do disco, cuja modernidade já é exposta na instigante capa criada por Mariana Zanetti com base em fotos de Ana Brun. Um exemplo é o arranjo de Esvaziou. Parece que a música flutua num vácuo. Nesse jorro, a sauve balada À segunda vista soa alienígena em repertório tratado com eletricidade e certa intensidade. Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio transborda, projetando Verônica Ferriani com contundência.

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