Resenha de CD
Título: Segue o som
Artista: Vanessa da Mata
Gravadora:Sony Music
Cotação:* * 1/2
Título: Segue o som
Artista: Vanessa da Mata
Gravadora:Sony Music
Cotação:* * 1/2
No texto escrito na primeira pessoa para apresentar seu oitavo álbum, Segue o som, Vanessa da Mata conta que revelou aos produtores Liminha e Kassin que achava não ter boas canções e que gostaria de contar outras histórias. Ao mostrar seus então esboços de músicas, a compositora de Mato Grosso do Sul foi convencida por Kassin de que a matéria-prima era boa. Vanessa finalizou as composições, compôs outras músicas e gravou de agosto a outubro de 2012 o seu sexto disco de inéditas. Álbum que arquivou temporariamente em 2013 para fazer o show e o disco em que deu voz a músicas de Antonio Carlos Jobim (1927 -1994). E que retomou em janeiro e fevereiro deste ano de 2014, substituindo músicas, refazendo bases e mudando letras. Pois a edição de Segue o som - nas lojas desde o fim de março em edição do selo da artista, Jabuticaba, posta no mercado fonográfico pela gravadora Universal Music - mostra que a intuição inicial da compositora estava certa. A safra de inéditas - composta por 12 músicas, sendo 11 assinadas somente por Vanessa - resulta irregular. Aberto com o pop reggae Toda humanidade nasceu de uma mulher, o disco se revela oscilante, deixando a impressão recorrente de que o som e a obra da artista já dão sinais de repetição. "A música torna-se real pela sua composição, mas o talento dos músicos é o que faz uma canção saltar", ressalta a artista no texto em que discorre sobre o CD que considera o melhor de sua discografia. De fato, o acabamento dado às músicas por Kassin e Liminha é excelente. A questão é que a sonoridade dos produtores também já parece déjà vu na obra de Vanessa, ecoando sons de Sim (2007), um dos álbuns mais bem-sucedidos da discografia da artista. Os ecos de Sim estão por todo o disco, mas saltam especialmente aos ouvidos em Desejos e medos, música menor sobre o efeito congelante do medo de ser feliz no amor e na vida, e no reggae Homem invisível no mundo invisível, crítica direta ao movimento mecanizado e mercantilista que gira o mundo, feita em letra que que defende a existência de um universo espiritual (o mundo invisível do título do tema) e que culmina com rasos versos típicos de autoajuda. Justiça seja feita: no todo, as letras do disco estão fortes. Mas as músicas são, em boa parte, fracas - sobretudo se comparadas à anterior produção autoral da artista, cujo último álbum de inéditas, Bicicletas, bolos e outras alegrias (2010), se revelou estupendo, absolutamente sedutor. Faixa previamente lançada em single, em janeiro, a música-título Segue o som - reggae que faz um convite à vida e à liberdade - sustenta a boa impressão inicial, integrada a um repertório que reitera a sensação de que Vanessa da Mata faz música sem manual. Letras e melodias parecem jorrar intuitivamente, livres de fórmulas e amarras. Só que poucas soam realmente empolgantes em disco sem coesão. Homem preto exemplifica com precisão a dose menor de inspiração que pauta Segue o som. Ligeiramente mais envolvente, Não sei dizer adeusé canção que ganha o toque roqueiro da guitarra de Kassin, produtor que (im)põe seu d.n.a. no disco com mais força do que Liminha. Ninguém é igual a ninguém (Desilusão) pode ser considerada a balada do disco e, como seu título sugere, destila amargura nos versos descrentes da força motriz do amor. Há, contudo, grandes momentos. Com pegada de pop rock, Por onde ando tenho vocêé um deles. Trata-se de música feliz, pulsante, que ombreia com as melhores composições de artista. Deve ser um dos prováveis hits do disco. Primeira música composta por Vanessa em outra língua que não o seu português materno, My grandmother told me (Tchu bee doo bee doo) desce deliciosa com seu toque vintage, meio de cabaré, e seus versos em inglês que soam naturais na voz leve e solta da cantora. Vanessa também cai com propriedade no suingue do samba-pop-rock Rebola nêga, que retrata uma Maria qualquer na corda bamba do sofrido e injusto cotidiano do povo brasileiro. Uma música que exala frescor. Em contrapartida, Se o presente não tem você volta a impor a sensação - com seu toque de carimbó - de que o som segue por vezes déjà vu. O que impõe a regravação de Sunshine on my shoulders(John Denver, Dick Kniss e Mike Taylor, 1973) como um single em potencial. Sucesso nos anos 1970, inclusive no Brasil, a melódica canção do compositor norte-americano John Denver (1943 - 1997) - música que poderia figurar em disco do cantor-surfista Jack Johnson - soa ensolarada na voz de Vanessa, sem o tom emotivo, quase lacrimejante, da gravação original de Denver. Única música assinada pela compositora em parceria, no caso com os produtores Kassin e Liminha, Um sorriso entre nós dois arremata a safra de inéditas - o disco é fechado com remix de Segue o som - em tom feliz, mas ainda com a impressão de que o álbum oscila o tempo todo, talvez pela ausência de mais parceiros. Em vez de ouvir Kassin, Vanessa da Mata devia ter seguido sua intuição inicial.