Editorial - Post publicado hoje pelo cantor e compositor carioca Fernando Temporão em seu Facebook faz duras críticas ao Prêmio da Música Brasileira por conta da distribuição de troféus da 25ª edição da premiação criada pelo empresário José Maurício Machline em 1988. "É um prêmio naftalina, que estacionou no tempo, e insiste em afagar os mesmos artistas de 'SAMBA' e 'MPB' que estão por aí há 30, 40 anos. Os mesmos nomes mofados, ano após ano, ganhando os mesmos prêmios", alfinetou Temporão, externando pensamento que talvez seja o de parte de uma geração jovem crescida sem ter a MPB como referência. O artista - que lançou em 2013 seu (interessante) primeiro álbum solo,Dentro da gaveta da alma da gente- critica o prêmio sob a ótica da cena contemporânea da qual faz parte. Para Temporão, o Prêmio da Música Brasileiraé"surdo, ignorante, cego e desinteressado pelo novo", como caracteriza em seu post. Embora reconheça que há uma cota para o novo no prêmio (preenchida este ano, por exemplo, com a eleição do paulistano Passo Torto como o melhor grupo da genérica categoriaPop / rock / reggae / hip hop / funk), Temporão sustenta que oPrêmio da Música Brasileiratem "uma visão estereotipada, careta, preconceituosa da produção cultural brasileira". Há lógica no seu ponto de vista, mas essa lógica ignora queoPrêmio da Música Brasileiraé feito para festejar uma produção de MPB que ainda se revela interessante - assim como o Grammy é organizado para consagrar a produção fonográfica já avalizada pela indústria do disco nos Estados Unidos. "A música popular brasileira NÃO É MAIS a MPB. A MPB é datada, acabou, passou!", sentencia Temporão em seu post. De fato, a MPB nascida e consagrada na era dos festivais, a partir de 1965, pode até soar datada. Mas ainda é uma música rica, sedutora, pulsante, como provam os últimos (grandes) álbuns de inéditas de Dori Caymmi (Setenta anos, 2014) e Joyce Moreno (Tudo, 2012), por exemplo. O grupo carioca Boca Livre - para citar um terceiro exemplo - lançou em 2013 álbum irretocável, Amizade, que lhe rendeu o prêmio de Melhor grupo na categoria MPB. Querer impor a essa rica produção cultural o status de ultrapassada ou careta é atitude tão preconceituosa quanto ignorar a produção de artistas alinhados com sons de estética mais contemporânea, como Alice Caymmi, Juçara Marçal, Gustavo Galo e o próprio Temporão. A música não tem fronteiras. Danilo Caymmi - ilustre representante da MPB - está gravando disco produzido por Domenico Lancellotti e Bruno Di Lullo. É dessa interação que se alimenta a música brasileira. Minimizar a MPB - e, por consequência, artistas como Maria Bethânia e Milton Nascimento (vistos na foto de Roberto Filho com seus merecido troféus de Melhor cantora e Melhor cantor de MPB) - é virar as costas para um passado glorioso da música brasileira que ainda dá saborosos frutos no presente. É provável que o corpo de jurados do Prêmio da Música Brasileira - da qual faz parte o editor de Notas Musicais - seja mais sensível aos discos dos nomes mais tradicionais da MPB e do samba por questão de formação musical e de geração. Mas o Prêmio da Música Brasileira nunca alardeou ser indie, embora em seu palco já tenham se apresentado artistas como Céu, Criolo, João Cavalcanti e Tulipa Ruiz. É um prêmio que renova a consagração de ícones da MPB e do samba como Alcione Maria Bethânia e Milton Nascimento. Ídolos de uma música que, mesmo datada, ainda insiste em soar brilhante. Juçara Marçal é maravilhosa. Mas Joyce Moreno também é. E, como diz sentença propagada pelo próprio Facebook, música boa não tem prazo de validade. E que venha em 2015 a 26ª edição do Prêmio da Música Brasileira!
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