Quantcast
Channel: Notas Musicais
Viewing all articles
Browse latest Browse all 4098

Luiza alcança ponto de harmonia e coesão com 'Sobre o amor e o tempo'

$
0
0
Resenha de CD
Título:Sobre o amor e o tempo
Artista: Luiza Possi
Gravadora: Radar Records
Cotação: * * * *

Bons ventos sempre chegam. Sétimo CD de Luiza Possi, o quinto gravado em estúdio, Sobre o amor e o tempo conduz a irregular discografia da cantora carioca a um ponto inédito de coesão e harmonia. A unidade é resultante não somente do fato de as 14 músicas versarem sobre o amor e o tempo - o que evitou na última hora que o disco recebesse o inexpressivo título de Sétimo - mas, sobretudo, da suave tonalidade pop formatada pelo produtor Dadi Carvalho. O rock enfatizado pela artista nas entrevistas promocionais do disco se impõe mais na segunda metade de Sobre o amor e o tempo, em especial nas autorais D.C. (Luiza Possi) e Velho do restelo (Luiza Possi e Nelsinho Botega), tema cantado na velocidade de uma embolada. Contudo, no geral, a vibe roqueira que eventualmente se insinua em faixas como Passageiro (André Negrão de Lima) e Coisas pequenas (Zé Rodrix e Tavito) - regravação da balada bluesyCoisas pequenas, lançada pelo cantor e compositor carioca Zé Rodrix (1947 - 2009) em álbum de 1973 - é filtrada pela estética pop e limpa da produção de Dadi, cujos violões e guitarra são recorrentes nos arranjos. Em essência, Sobre o amor e o tempoé disco melódico, herdeiro das delicadezas do anterior álbum de estúdio de Luiza, Bons ventos sempre chegam (LGK Music, 2009), até então o melhor CD da cantora. Grande sacada, Coisas pequenasé bissexta regravação em repertório predominantemente inédito. Em sintonia com a suavidade pop do álbum, Tao da lua abre Sobre o amor e o tempo, expondo de cara a evolução de Luiza como compositora com canção que se alinha com outras músicas do disco assinadas por artistas consagrados. Inédita parceria de Marisa Monte com Adriana Calcanhotto e Dadi Carvalho, Devo lhe dizer deixa logo reconhecível o d.n.a. melódico das canções simples e sedutoras de Marisa. Da mesma forma, Tempo em movimento traz a assinatura pessoal e intransferível de Lulu Santos, o rei do pop nativo, parceiro de Nelson Motta nesta canção gravada com a guitarra slide e a voz do próprio Lulu (em harmonioso uníssono com a de Luiza). Já O mundo era nós doisé balada ao estilo pop passional de Ana Carolina, parceira de Chiara Civello e Antonio Villeroy (e cabe um parêntesis para realçar a generosidade de Ana como compositora, pois a artista mineira volta e meia cede para outros cantores músicas que poderiam ser hits em sua voz ardente). As melódicas canções Pode vir (Juca Chuquer), Venha - parceria de Luiza com Barbara Rodrix - e Logo eu (Sonekka e Zé Edu Camargo) contribuem para a coesão do disco por estarem afinadas com o tom suave de Sobre o amor e o tempo. Já a releitura em tom bluesy de Solidão - música da cantora e compositora carioca Dolores Duran (1930 - 1959), lançada em 1958 na voz da autora - destoa do espírito do disco porque, nesta faixa, Luiza experimenta intensidade inadequada para seu canto (além do mais, paira a comparação com a releitura - ainda - contemporânea de Solidão feita por Marina Lima em 1979, no seu primeiro álbum). Na seara das regravações, Luiza é mais feliz ao pescar pérola na discografia de Erasmo Carlos, Dois em um,  tema da lavra solitária do Tremendão, que entra com seu vocal rapeado nesta gravação que soa mais aliciante do que o registro original da canção, feito pelo cantor e compositor carioca em seu irregular álbum Santa música (Indie Records, 2004). Por sua vez, na abordagem de Luiza, Dois perdidos - linda canção composta por Dadi Carvalho com Arnaldo Antunes, lançada por Dadi em 2007 e regravada com mais repercussão em 2011 pela voz precisa do cantor gaúcho Filipe Catto - ganha em leveza pop o que perde na exposição da melancolia entranhada na letra. Mas é essa leveza pop que sustenta e unifica Sobre o amor e o tempo, ótimo disco à altura da voz bonita e afinada de Luiza Possi.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 4098