Resenha de CD
Título:SETEVIDAS
Artista: Pitty
Gravadora: Deck
Cotação:* * * *
Título:SETEVIDAS
Artista: Pitty
Gravadora: Deck
Cotação:* * * *
Não espere ouvir uma delícia pop como Me adora (Pitty, 2009) em SETEVIDAS, o álbum de inéditas que Pitty lança hoje, 3 de junho de 2014, cinco após após Chiaroscuro (Deck, 2009). Entre um álbum de estúdio e outro, a roqueira suavizou o som e os modos ao transitar pelo pop folk como metade do duo Agridoce, projeto paralelo que uniu a cantora e compositora baiana ao guitarrista e compositor Martin Mendezz. Em SETEVIDAS, Pitty volta ao rock, retomando os modos e a atitude de antes, sem aliviar a barra pesada. O peso é sentido tanto nas letras críticas e conscientes - que vão direto ao ponto quando, por exemplo, alfinetam o consumismo insano, assunto do rock Boca aberta (Pitty e Martin Mendezz) - quanto no som tirado pelo produtor Rafael Ramos e lapidado pela mixagem de Tim Palmer e a masterização de Ted Jensen, ambas exemplares, não por terem sido feitas no exterior, mas por terem gerado um som encorpado, equalizado e organizado sem jogar para debaixo do tapete as eventuais sujeiras. Afinal, SETEVIDASé disco de rock, gênero atualmente empurrado para a margem do mercado fonográfico. Rockão que abre o disco e que se destaca no coeso repertório inteiramente inédito e autoral, Pouco (Pitty) não deixa dúvidas sobre a natureza do disco. "Não espere que eu me contente com pouco / É pouco / Tão pouco", avisa Pitty, com fome de rock. Na sequência, outro rock, Deixa ela entrar (Pitty e Martin Mendezz) desafia a noção - já cristalizada no universo pop - de que rock e excessos devem andar juntos."É torta a sensação de que o caminho se encontra na perdição", sentencia Pitty, com maturidade. Nesse sentido, aliás, Pitty abre abismo entre SETEVIDAS e Admirável chip novo (Deck, 2003). Se este álbum de estreia alinhou adolescentes tomadas de posição, já expondo a atitude que iria tornar Pitty uma voz ouvida com atenção por sua geração pop, o atual disco já é o retrato de uma mulher adulta, capaz de falar metaforicamente de orgasmo em Pequena morte (Pitty e Martin Mendezz). Álbum pontuado por guitarras furiosas como as que dão força a Um Leão (Pitty), rock de versos como "Nas mãos do atirador, as facas que eu mesma concedi", SETEVIDAS sai do universo roqueiro em Lado de lá (Pitty) - power balada de textura psicodélica, guitarra e um piano alienígena tocado pela própria Pitty - e Serpente (Pitty), faixa que encerra o álbum em grande estilo, com coros e percussões que exploram rítmicas e terreiros nunca dantes pisados pela artista. As duas faixas sobressaem entre as dez inéditas de disco que reafirma seu espírito crítico em A massa (Pitty) e que apresenta músicas de intensidade crescente, caso de Olho calmo, composição assinada por Pitty coletivamente com sua banda. Enfim, SETEVIDASé disco de peso. "Ainda me restam três vidas", contabiliza Pitty em Sete vidas (Pitty), rock que dá título a esse álbum que renova o fôlego da arretada baiana.