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Channel: Notas Musicais
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Grande cantora da MPB, Selma Reis sai (precocemente) de cena aos 55 anos

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Há louvável coerência entre o primeiro álbum de Selma Reis (24 de agosto de 1960, São Gonçalo - RJ / 19 de dezembro de 2015, Teresópolis - RJ) e o último dos 11 álbuns lançados pela cantora fluminense que saiu de cena em Teresópolis (RJ) na manhã de hoje, aos 55 anos, em decorrência de agressivo câncer no cérebro, diagnosticado em julho de 2014. No primeiro disco, Selma Reis, lançado por via independente em 1987 e nunca reeditado no formato de CD, a cantora pôs voz grave, densa e volumosa a serviço de músicas de compositores como Geraldo Azevedo, Nelson Ângelo e Sueli Costa (Amor é outra liberdade, parceria com o poeta Abel Silva que a própria Sueli lançara em disco autoral de 1984 e que Selma regravada em registro preciso e pungente), entre outros nomes associados à MPB. No último álbum, A minha homenagem ao poeta da voz (Tessitura Musical, 2009), lançado em 2009 também por via independente, Selma deu voz ao cancioneiro do compositor carioca Paulo César Pinheiro. São dois grandes discos, o de 1987 e o de 2009. Discos de uma grande cantora de MPB que nem sempre conseguiu da indústria do disco o aval para fazer álbuns voltados para uma MPB já jogada à margem do mercado fonográfico quando a cantora apareceu. Selma Reis chegou à cena quando a MPB já não dava as cartas do jogo musical. Mesmo assim, a gravadora multinacional então denominada PolyGram - atualmente intitulada Universal Music - investiu no canto intenso da intérprete. Os álbuns Selma Reis (1990), Só dói quando eu rio (1991) e Selma Reis (1994) representaram o ápice comercial da carreira fonográfica da cantora. O disco de 1990 gerou os dois maiores sucessos de Selma, O que é o amor (Danilo Caymmi e Dudu Falcão) - música propagada na trilha sonora da minissérie Riacho doce (TV Globo, 1990) - e Emoções suburbanas. Este tema de Altay Veloso e Paulo César Feital tinha sido descartado pela PolyGram como música de trabalho, mas acabou se impondo espontaneamente como um clássico do repertório de Selma Reis, cantora de veia popular e voz passional. No embalo deste sucesso inicial, a cantora gravou regularmente ao longo da década de 1990. Lançou disco acústico em 1995 (Todo sentimento, MZA Music), deu voz à obra do compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1995), o Gonzaguinha, em álbum de 1996 (Achados e perdidos, Velas) e caiu no suingue cubano em CD de 1999, Ares de Havana (Velas). A partir dos anos 2000, com a progressiva desimportância dada às vozes da MPB pela mídia e pelas gravadoras, Selma diversificou as atividades profissionais. O canto teatral lhe facilitou incursões como atriz de musicais de teatro e novelas e série de TV. Mas nunca se afastou da música. Sem medo de pecar pelo excesso, a intérprete realçou a potência do canto em disco gravado com Cauby Peixoto e sintomaticamente intitulado Vozes (Albatroz, 2003). Anos depois, gravou dois álbuns de música sacra, Sagrado (Deckdisc, 2007) e o duplo Maria mãe de Jesus (Independente, 2008). Em 2011, em teatral show dirigido e roteirizado por Flávio Marinho, Selma Reis uniu música e os versos da poeta portuguesa Florbela Espanca (1984 - 1930). Intitulado O cabaré de Florbela, o show foi filmado na estreia, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ). Mas nunca foi lançado em DVD. Com a precoce saída de cena de Selma Reis, os fãs da cantora ficam sem um registro audiovisual para recordar o canto forte desta voz que se ergueu alto para cantar a MPB e que vai permanecer igualmente forte na lembrança de quem ouviu os discos e / ou viu os shows da imortal Selma  Reis.

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