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Aos 70 anos, Gal se reflete feliz no espelho cristalino do show 'Estratosférica'

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Resenha de show
Título: Estratosférica
Artista: Gal Costa (em foto de Mauro Ferreira)
Local:Sala municipal do Teatro Castro Alves (Salvador, BA)
Data: 27 de setembro de 2015
Cotação: * * * * 1/2

Talvez não seja por mero acaso que as duas primeiras músicas do roteiro do show Estratosférica - estreado por uma já setentona Gal Costa na Bahia na noite de ontem, 27 de setembro de 2015 - versem sobre espelho, ainda que sob prismas distintos. Aos 70 anos, completados na véspera da estreia nacional do show baseado no álbum de inéditas Estratosférica (Sony Music, 2015), a cantora baiana se reflete com sua voz ainda cristalina no espelho plural e transcendental do espetáculo dirigido por Marcus Preto. E, ao se entregar às imagens de seu espelho, como canta no rock stonianoSem medo nem esperança (Arthur Nogueira e Antonio Cícero, 2015), primeira das 25 músicas do impecável roteiro, Gal mostra em cena que já se vê de fora de si ao longo desse repertório que reflete todos os tons do canto extenso de Maria da Graça Costa Penna Burgos. Ao mover seu rosto do espelho, para citar um verso de Mal secreto (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971), Gal pode ser vista em cena tanto como a tímida Gracinha devotada a João Gilberto - quando arranha seu violão, a sós com o público, para reviver a primeira lembrança musical de seu compositor-guia Caetano Veloso, Sim, foi você (1965), marco inicial de sua discografia cinquentenária - quanto como a Gal fatal que eleva os tons para acertar a conta com seu passado transgressor no toque bluesy de Como dois e dois (Caetano Veloso, 1971), reminiscência de um lendário show feito a todo a vapor entre 1971 e 1972. Mais do que fatal, Gal sempre foi plural. Por isso, consegue passear com tanta naturalidade por um inédito samba cheio de bossa feito para ela por Marcelo Camelo - Pelo fio, número de voz & violão (o do guitarrista Guilherme Monteiro) que também faz ressuscitar a Gracinha, a menina que deu seus primeiros passos musicais na cidade de São Salvador onde o show Estratosférica debutou feliz em cena - e por libertador blues-rock como Cartão postal (Rita Lee e Paulo Coelho, 1975), boa surpresa de roteiro que revisita o passado de Gal com foco no presente sem concessões aos hits esperados pelo público mais conservador. É fato, aliás, que várias músicas do repertório de Estratosférica foram recebidas pela plateia do Teatro Castro Alves com frieza até justificável pelo fato de o disco que batiza o show ainda não ter sido assimilado por boa parte desse público. Mas Quando você olha pra ela - a canção de Mallu Magalhães escolhida como primeiro single do álbum Estratosférica - surte efeito e soa com mais jeito de Jorge Ben Jor do que Cabelo (1990), a parceria do Zé Pretinho com Arnaldo Antunes que Gal lançou há 25 anos no álbum Plural(BMG-Ariola, 1990). Cabelo ainda pode crescer no show, ganhando uma interpretação mais descabelada que não se deixe abater pelo peso do arranjo roqueiro no qual sobressaem o baixo de Fábio Sá e a guitarra de Guilherme Monteiro. A propósito, Estratosféricaé - no som e na atitude - um show de rock, ainda que tenha sambossa (como Vou buscar você pra mim, a inédita de Guilherme Arantes incluída somente na edição digital do álbum Estratosférica, mas cantada por Gal no bis do show), canção de amor e até um iê iê iê nada romântico de Tom Zé, Namorinho de portão (1968), gravado por Gal em disco de 1969 e revivido no show no momento em que o público vê pela primeira vez o painel abstrato criado por Zé Carratu para o cenário do espetáculo. A vibração do rock é garantida pela firme direção musical de Pupillo (por questões de agenda substituído na bateria por Thomas Harres na estreia nacional do show). O quarteto da estreia soou fantástico, executando arranjos que tiraram qualquer sinal de mofo do repertório antigo, irmanando músicas novas e velhas. Tecladista e guitarrista da banda paulistana Bixiga 70, Maurício Fleury integra o quarteto e tira de seus teclados os efeitos psicodélicos que pavimentam o caminho percorrido pela personagem apaixonada de Jabitacá (Lirinha, Junio Barreto e Bactéria, 2015). E por falar em paixão, a canção Não identificado (Caetano Veloso, 1969) chega ao céu com o arranjo que projeta ruídos e efeitos em clima espacial. Na estreia da turnê, Não identificado foi o primeiro número musical recebido com entusiasmo pela plateia. Já Ecstasy (João Donato e Thalma de Freitas, 2015) surte efeito mais fraco em cena, talvez pela ausência do Fender Rhodes tocado por João Donato no disco. Outra música que ainda pode ganhar mais peso no show é Dez anjos (Milton Nascimento e Criolo, 2015), tema de tom social que não tem toda sua tensão evidenciada pelo arranjo e pela interpretação de Gal (talvez pela questão social destoar do repertório do espetáculo). Já Casca (Jonas Sá e Alberto Continentino, 2015) se manteve com a mesma consistência do disco em arranjo prog de tom eletrônico. Os climas do show, aliás, são bem variados - mérito do diretor Marcus Preto, que soube criar roteiro bem amarrado. Até mesmo Dez anjos tem seu link feito com a aridez de Acauã (Zé Dantas, 1952), Sem seu fantástico quarteto, Gal fica sozinha no palco e, com bases pré-gravadas, se embrenha no sertão seco de Acauã, ruminando seu canto com a propriedade de quem ouviu muito Luiz Gonzaga (1912 - 1989) antes de ser abduzida pela bossa aliciadora de João Gilberto. Em outro momento íntimo, no qual a cantora afina sua voz com o toque do violão de Guilherme Monteiro, Gal expõe a solidão triste e gelada de Três da madrugada (Carlos Pinto e Torcuato Neto, 1973). Mas alegrias e tristezas se irmanam em cena. Na parte mais expansiva e calorosa do show, iniciada com Como dois e dois, Gal e banda dão brilho contemporâneo a Pérola negra (Luiz Melodia, 1971) antes de caírem no suingue nordestino para desnudar a maliciosa Por baixo (Tom Zé, 2015), delícia luxuriosa do baiano Tom Zé. Na sequência, Arara (Lulu Santos, 1987) aponta seu bico quando Gal reproduz o canto onomatopaico da palavra-título da música, perseguindo os agudos da gravação original, feita em controvertido álbum de tom tecnopop, Lua de mel como o diabo gosta (BMG-Ariola, 1987). Profana ou sacra, Gal gosta da sua Bahia e, por isso, revive sua festa do interior ao cantar Estratosférica (Céu, Pupillo e Junior Barreto, 2015), música-título do disco e do show que alude nos versos ao cortejo do bloco afro-baiano Filhos de Gandhy pelas ruas da velha São Salvador, capital de uma Bahia mítica que resiste no imaginário nacional. No fecho do show, antes do bis, a cantora ainda tenta esticar a festa no refrão de Os alquimistas estão chegando os alquimistas (Jorge Ben Jor, 1974), reflexo de uma Gal que deu muita voz a Jorge Ben. No bis, a cantora atualiza Meu nome é Gal com citações dos músicos da banda, dos compositores que lhe forneceram o repertório do álbum Estratosférica e dos 70 anos completados na véspera da estreia nacional do show que vai percorrer o Brasil até 2016. A simulação de sons de guitarra na voz - ao fim do número - é outro reflexo de uma Gal que trilhava o caminho da inquietude, retomada na maturidade a partir do revigorante disco e show Recanto (2011 / 2012). No segundo bis, a fúria roqueira de Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951) - herança do demolidor show em que Gal deu lufada de ar fresco no cancioneiro amargurado do compositor Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) - e a beleza plácida da canção Você me deu (Caetano Veloso e Zeca Veloso, 2015) reiteram que o espelho de Gal Costa é multifocal. Grande show de uma senhora cantora de 70 anos, Estratosféricaé reflexo feliz desse espelho ainda cristalino.

Kuarup reedita 'Samba na madrugada', álbum seminal de Elton com Paulinho

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Já fora de cena por problemas de saúde, o cantor e compositor Elton Medeiros completou 85 anos de vida em 22 de julho. Já Paulinho da Viola - parceiro e amigo de Elton desde a década de 1960 - percorre o Brasil com o show comemorativo de seus 50 anos de carreira. Aproveitando tais efemérides, a gravadora Kuarup relança neste mês de setembro de 2015 Samba na madrugada, álbum decisivo e seminal nas trajetórias desses artistas cariocas que debutaram juntos no mercado fonográfico como integrantes do grupo A Voz do Morro antes de gravarem em dupla, numa única noite, este disco autoral em que ambos dão vozes, entre solos e duetos, a 19 sambas distribuídos em 11 faixas. A atual edição é remasterizada pelo engenheiro de som Ricardo Carvalheira. Reposto em catálogo pela última vez em 2001, o já então raro álbum foi lançado originalmente em 1966 pela gravadora RGE com o título Na madrugada. Em 1968, ano em que Paulinho iniciou sua carreira solo, o disco foi reeditado com o título Samba na madrugada, pelo qual ficaria conhecido. Na companhia de célebres músicos como Raul de Barros (trombone), Dino Sete Cordas (violão), Meira (violão), Canhoto (cavaquinho), Copinha (flauta), além de Marçal e dos irmãos Gilberto Luna e Jorge Luna na percussão e no ritmo, Paulinho e Elton registraram sambas então inéditos em disco como 14 anos (Paulinho da Viola), Alô, alô (Paulinho da Viola), Arvoredo (Paulinho da Viola), Minha confissão (Elton Medeiros), Momento de fraqueza (Paulinho da Viola), Samba original (parceria de Elton Medeiros e Zé Kétti),Sofreguidão (Elton Medeiros e Cartola) e Sol da manhã (Elton Medeiros).

Paula faz outro dueto com Sater em música de seu autoral disco 'Amanhecer'

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O nono álbum da cantora e compositora mineira Paula Fernandes, Amanhecer, tem participação do cantor, compositor e violeiro mato-grossense Almir Sater em Pedaço de chão, última das 12 músicas do disco de repertório autoral que chega ao mercado fonográfico a partir de 16 de outubro de 2015 em edição da gravadora Universal Music. Não é a primeira vez que Paula grava com Sater. O primeiro sucesso da artista na fase atual de sua discografia foi a interiorana Jeito de mato (Paula Fernandes e Maurício Santini, 2008), bonita música do álbum Pássaro de fogo (Universal Music, 2008) gravada em dueto com Sater. Eis - na ordem do disco - as 12 músicas do álbum Amanhecer:

1. Pronta pra você
2. A paz desse amor
3. Falar de mim
4. Depende da gente
5. Amanhecer
6. Piração
7. Água no bico
8. E eu
9. Voltaria ao começo
10. Menino bonito
11. Pra quem saber sonhar
12. Pedaço de chão - com Almir Sater

Prestes a lançar seu segundo álbum, Boogarins edita no Brasil CD de estreia

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Banda de rock psicodélico formada em Goiânia (GO) em 2012, Boogarins se prepara para lançar seu segundo álbum - Manual ou Guia livre de dissolução de sonhos, programado para outubro de 2015 e já com single, Avalanche, em rotação na web - enquanto edita no Brasil o primeiro álbum com três faixas adicionais. Inédito no mercado fonográfico nacional, As plantas que curam (2013) foi lançado há dois anos nos Estados Unidos via Other Music, selo associado à gravadora Fat Possum - o que garantiu ao grupo certa projeção na cena indie norte-americana e também no circuito europeu de shows. Com dois anos de atraso, As plantas que curamchega ao Brasil em edição viabilizada com recursos do festival Skol Music. As três faixas adicionais abarcam duas músicas inéditas - Refazendo e À sua frente (gravada no estúdio da Lolipop Records, em Los Angeles, EUA) - e um registro ao vivo da música Doce, captado na edição de 2014 do festival Bananada. Benke Ferraz (guitarra), Dinho Almeida (voz e guitarra), Raphael Vaz (baixo) e Ynaiã Benthroldo (substituto de Hans Castro no posto de baterista do Boogarins) lançam a edição brasileira de As plantas que curam nos formatos de CD e de vinil duplo (fabricado com LP de sete polegadas que traz as faixas-bônus) enquanto aguardam a vez de Manual ou Guia livre de dissolução de sonhos.

Faria Jr. foca o artista Chico com humor no tempo imaginativo das memórias

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Resenha de filme
Título:Chico - Artista brasileiro
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Miguel Faria Jr. eDiana Vasconcellos
Direção musical: Luiz Claudio Ramos
Cotação: * * * *
Filme com estreia prevista para o último trimestre deste ano de 2015

Dez anos após surpreender o circuito cinematográfico brasileiro com o expressivo sucesso popular de Vinicius (2005), filme fluente que expôs a face plural da vida e da obra do compositor e poeta carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980), o cineasta carioca Miguel Faria Jr. apresenta Chico - Artista brasileiro, filme que vai abrir a 17ª edição do Festival do Rio em sessão para convidados programada para 1º de outubro de 2015. No documentário, Faria Jr. - amigo do artista (en)focado com a lente da generosidade - reconta o conto oficial de Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor, músico e escritor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro (RJ) há 71 anos. O expressivo documentário entrelaça - com a mesma fluência de Vinicius - entrevistas (a de Chico conduz o roteiro em ordem cronológica), imagens raras de arquivo, cenas inéditas de bastidores e números musicais gravados para o filme sob a direção musical do violonista Luiz Cláudio Ramos. Só que, embora oficial, o conto do cantor recusa os ares de senhor, para citar verso de Sinhá (João Bosco e Chico Buarque, 2011), música que abre o filme em registro inédito do próprio Chico. Em essência, o filme versa sobre o tempo e o artista. Chico documenta a relação do artista com o tempo da vida e da criação ("Tudo é memória e a memória se confunde com a imaginação", ressalta Chico numa de suas lapidares sentenças proferidas ao longo da entrevista) e os efeitos do tempo na criação do artista. Dentro dos limites da intimidade consentida, Faria Jr. refaz o trilho da vida e da obra do artista ao longo desse tempo em rota que passa por imagens raras da infância de Chico, por sutis declarações sobre a relação complexa com o pai paulista, o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902 - 1982), pai do já falecido irmão alemão de Chico que, ao fim, o filme mostra em ação, como ator e cantor, em take antigo. A rigor, o filme poderia ser chato, porque molda o retrato oficial do artista, pintado somente com as tintas da exaltação. Mas Chico transcorre leve e envolvente porque - como ressaltam amigos entrevistados, como o compositor e parceiro Edu Lobo - Chico tem humor. Esse (bom) humor pontua toda a entrevista que conduz o filme. "Nunca fui tímido. Meus pais me chamavam de show boy", lembra Chico, demolindo mito sobre seu perfil público. Mas o artista confirma o desconforto com o palco, originário de apresentações forçadas em palcos italianos durante o autoexílio em Roma. Mas a maneira como Chico fala de sua vida é bem-humorada. O riso salta do tom da voz, da entonação de uma palavra, ajudando a aliviar o peso oficial desta cinebiografia autorizada. A parte mais séria fica com os exclusivos números musicais. Ney Matogrosso revê As vitrines (Chico Buarque, 1982) sem jamais impactar. Além de interpretar Sobre todas as coisas (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) com o contracanto de Milton Nascimento, Carminho faz Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) voar para os ares de Lisboa. Já a atriz e cantora Laila Garin encara Uma canção desnaturada (Chico Buarque, 1977) sem carregar no drama embutido no tema. Destaque dentre os números, o dueto de Adriana Calcanhotto com Mart'nália no samba Biscate (Chico Buarque, 1983) - dando tom lésbico ao lelê conjugal da letra - tem a espirituosidade que pauta o filme. O riso brota farto na cena de arquivo em que o compositor maranhense João do Vale (1934 - 1996) admite que, no papel de juiz de jogo de futebol armado no campo de Chico, validou gol irregular do dono da bola porque ele era o "patrão". Chico discorre com humor sobre sua vida, mas também fala sério. É corajoso ao ressaltar a gênese elitista da Bossa Nova - "E essa elite tinha o poder de se fazer ouvir no Brasil inteiro"- e o caráter democrático da música populista que domina as paradas musicais. "Essa música que toca hoje é a cara da gente", observa, sem citar gêneros e nomes, em declaração polêmica que pode decepcionar os reguladores do gosto musical alheio. Com a liberdade de quem frequenta o cotidiano do artista, Faria Jr. documenta o cantor-avô com três netos (Chico Freitas, Clara Buarque e Lia Buarque), tocando violão e cantando Dueto (Chico Buarque, 1980) com Clara. À medida em que o filme caminha para o final, o escritor ocupa progressivamente o espaço que, antes, até na vida profissional, era somente do cantor e do compositor. E aí Chico volta mais uma vez ao assunto do tempo para enfatizar que o tempo da criação é cada vez mais longo enquanto a vida que lhe resta fica presumivelmente mais curta. E assim, nessa toada soprada pelo próprio artista, Miguel Faria Jr. fez filme preciso, para todos, percorrendo no tempo imaginativo das memórias as estradas por onde vai, há mais de 50 anos, o bem-humorado artista brasileiro, soberano na arte da composição.

Com conceito frágil, DVD que resume 30 anos de 'Rock in Rio' cai no karaokê

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Resenha de CD e DVD
Título:Rock in Rio 30 anos - Box Brasil
Artista: vários
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 

♪ Para celebrar os 30 anos do Rock in Rio e as três décadas de pop rock no Brasil, já que a primeira edição do festival de Roberto Medina consolidou em 1985 a abertura do mercado roqueiro nativo, a empresa Musickeria idealizou projeto fonográfico - recém-posto no mercado pela gravadora Universal Music nos formatos de CD e DVD - com 30 gravações inéditas de sucessos do pop nacional, feitas por artistas desse universo pop sob a direção e produção musical de Liminha. Como geralmente acontece em projetos coletivos, o resultado dos covers oscila. Há quem honre a missão lhe confiada, como o rapper carioca Marcelo D2, que interpreta com pegada Samba makossa (Chico Science, 1994) - em homenagem ao mentor do movimento Mangue Beat, o pernambucano Chico Science (1966 - 1997) - e Polícia (Tony Bellotto, 1986), música dos Titãs que poderia figurar em qualquer disco de D2. Confirmando seu bom momento, Baby do Brasil energiza o rock Semana que vem (2003), de autoria de Pitty, que retribui com gravação digna de sucesso dos Novos Baianos associado à Baby, A menina dança (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972). Só que o hit de Baby no grupo baiano foi lançado 13 anos antes da primeira edição do Rock in Rio - o que expõe a fragilidade do conceito do projeto, reiterada quando Frejat dá voz à canção Na rua, na chuva, na fazenda, lançada por Hyldon em compacto de 1973. Posto isso, o Skank acerta o tom de Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, 1970) e de Andar com fé (Gilberto Gil, 1982). Mas há momentos típicos de karaokê. Quando Paulo Ricardo solta a voz em Tempo perdido (Renato Russo, 1986), com arranjo idêntico ao do registro original da Legião Urbana, o ouvinte / espectador tem a impressão de estar em karaokê. E por falar em Legião Urbana, a banda toca Toda forma de poder (Humberto Gessinger, 1986) e Por você (Maurício Barros, Roberto Frejat e Mauro Santa Cecília, 1999) sem soar como Legião - o que prova que a identidade da banda estava na voz de Renato Russo (1960 - 1996). A propósito, Dinho Ouro Preto - que, na primeira fase do Capital Inicial, dava a impressão de querer ser Russo - se realiza no seu karaokê ao dar voz a Quase sem querer (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Renato Rocha, 1986) - com citação de Será (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, 1985) - e a Geração coca-cola (Renato Russo, 1985). O clima de karaokê permanece quando o grupo Suricato revive com reverência Pro dia nascer feliz (Roberto Frejat e Cazuza, 1982), primeiro sucesso radiofônico do Barão Vermelho. Justiça seja feita: a banda de reggae Cidade Negra se afina com o tom esfumaçado de Legalize já (Marcelo D2 e Rafael Crespo, 1995), sucesso do álbum que projetou o Planet Hemp há 20 anos. Já o trio Os Paralamas do Sucesso reitera seu contínuo entrosamento mais ao defender Inútil (Roger Moreira, 1983) do que Tempos modernos (Lulu Santos, 1982). Enfim, entre karaokês e regravações bacaninhas, como a abordagem de Seu espião (Leoni, Paula Toller e Herbert Vianna, 1984) pelo grupo Pato Fu, fica a sensação de que o Rock in Rio merecia projeto mais azeitado, à altura da importância e da popularidade do festival. Faltou mais rigor no conceito.

Vasconcellos faz viagem solitária na rota experimental de 'Adotar cachorros'

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Resenha de CD
Título:Adotar cachorros
Artista: Lucas Vasconcellos
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * 1/2

Em seu segundo álbum solo, Adotar cachorros, Lucas Vasconcellos segue o trilho experimental que já havia pautado seu primeiro álbum fora do duo Letuce, Falo de coração (Independente, 2013). Mas, desta vez, o guitarrista e compositor fluminense investe no que conceitua como perversão do uso de instrumentos eletrônicos. Produzido pelo próprio artista com Emygdio Costa, Vasconcellos apresenta um disco hermético, experimental ao extremo, pontuado por ruídos, dissonâncias e cacofonias. Com a participação da cantora Duda Brack em Peixes, Adotar cachorros apresenta oito músicas - todas de autoria solitária de Vasconcellos - que, no disco, totalizam pouco mais de 24 minutos que provocam incômodo e enjoo no ouvinte. A questão é que a construção da sonoridade do álbum - lançado em edição física em CD neste mês de setembro de 2015, um mês após ter sido disponibilizado para audição na web - jamais disfarça a opacidade do canto do artista. O que prejudica a fruição das letras, sempre mais interessantes do que as insossas melodias do compositor. Lucas Vasconcellos tem o que dizer em Adotar cachorros. "Ter alegria não é ter brilho / É saber-se bem silenciosamente ao lado de alguém / Ou longe de alguém", argumenta em versos de Silenciosamente, com brilho. Sobre a violência discorre sem clichês sobre tema já exaurido por vozes do universo roqueiro em versos como "A gente  mesmo é nossa própria violência / Porque ela nasce com a gente / A gente aprende a disfarçar a violência / Porque o querer da gente afronta / ... / Mais terror por gentileza". Clichê seria se referir a Adotar cachorros como um disco íntimo e pessoal. Só que o clichê é válido, no caso. Em sua solidão, Lucas Vasconcellos precisava ter posto um freio na experimentação para dar mais valor ao sentido de suas músicas. Mas a exploração dos sons dos teclados samplers parece ter conduzido todo o processo de criação de músicas e do disco, ofuscando a sensibilidade embutida nas letras das composições gravadas com as adesões de três excelentes bateristas (Jongui, Marcelo Vig e Thomas Harres). Até por embutir referências à cidade natal do artista, Petrópolis (RJ), no pinhão exposto na capa e no título da música Carnaval na serra, o álbum Adotar cachorrosé uma viagem individual - iniciada com Amanhã a gente se beijou pela última vez (música que já sinaliza na abertura do disco a libertação do conceito social de tempo) e encerrada com a composição que intitula o álbum, Adotar cachorros (de letra de tom pessoal) - pensada para ser feita e curtida solitariamente somente pelo próprio Lucas Vasconcellos. 

Campos prova em 'Conversas com Toshiro' que Japão não é assim tão longe

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Resenha de CD
Título:Conversas com Toshiro
Artista: Rodrigo Campos
Gravadora: YB Music
Cotação: * * * 1/2

É pelas lentes e referências do cinema do país do sol nascente que Rodrigo Campos foca o Japão mapeado em seu terceiro álbum solo, Conversas com Toshiro. Mas as referências cinematográficas - espalhadas pelo disco em músicas que nominam em seus títulos personalidades míticas como o ator Toshiro Mifune (1920 - 1997) e os cineastas Takeshi Kitano, Yasujiro Ozu (1903 - 1963) e Wong Kar-Wai (de origem chinesa) - servem para retratar em suas canções personagens cujos anseios e dilemas são universais. Em seu primeiro álbum solo, São Mateus não é um lugar assim tão longe (Ambulante Discos, 2009), o artista paulistano focou a cidade de São Paulo (SP) e o próprio Brasil pelo viés humanista dos habitantes de São Mateus, o periférico bairro da Zona Leste de Sampa no qual foi criado e aprendeu a tocar seu cavaquinho. E por falar em cavaquinho, há sambas em Conversas com Toshiro. Chihiro e Mar do Japão são sambas que mostram que, inclusive no mapa-múndi da música, o Japão não é um lugar assim tão longe de São Paulo e de Salvador (BA), cidade presente na rota imagética do segundo álbum solo de Campos, Bahia fantástica (Núcleo Contemporâneo, 2012), disco que manchou a construída imagem feliz da mítica Bahia de São Salvador. Disco viabilizado pelo projeto Natura musical, Conversas com Toshiro tem produção tão fantástica quanto a de seu antecessor. A riqueza de timbres e dos arranjos valoriza o cancioneiro autoral de Campos, saltando sobretudo aos ouvidos na orquestração majestosa de Toshiro reverso, feita com complexidade que evoca o som do maestro Moacir Santos (1926 - 2006).  Faixa formatada com cordas, Abraço de Ozu reitera o tom por vozes onírico adquirido pelo disco produzido por Campos com seu irmão de fé Romulo Fróes, colega no quarteto Passo Torto. Ciente de seus limites como cantor, Campos reforça o registro de músicas como Wong Kar-Wai e Takeshi e Asayo com os vocais femininos das cantoras Juçara Marçal e Ná Ozzetti, recorrentes no álbum. E por falar em Juçara, grande música de seu disco solo Encarnado (Independente, 2014), Velho amarelo, reaparece em Conversas com Toshiro, um pouco distante do Japão, com orquestração magistral, mas sem a força crua do registro do antológico álbum da cantora. Tema que busca uma transcendência espiritual, Funatsu - composição que descreve a personagem-título na letra como "metade de algo encarnado"- parece caber mais no Japão imaginado por Campos com doses altas de erotismo. Nesse campo, Katsumi e Dois sozinhos vão direto ao ponto G com poesia e, no gozo dessas músicas embebidas em sensualidade, o ouvinte se identifica com o Japão, país que não é um lugar assim tão longe porque os sentimentos e a vida humana - matéria-prima dos discos de Rodrigo Campos em São Paulo, na Bahia ou em qualquer outro lugar do mundo - se irmanam na fogueira das paixões, e nas telas dos cinemas transcendentais que unificam o universo.

Retrô 3º trimestre de 2015: Flanders, Danilo e Platão mostram 'discos do ano'

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RETROSPECTIVA 3º TRIMESTRE DE 2015 - Encerrado hoje, 30 de setembro, o terceiro semestre deste ano de 2015 já inseriu três álbuns na lista de melhores discos do ano. Curiosamente, são três álbuns de três cantores e compositores. Enquanto as cantoras se destacaram nos palcos, três cantores lançaram discos irretocáveis. Hélio Flanders iniciou sua carreira solo com o primoroso Uma temporada fora de mim (Deck), doído álbum lançado em setembro. Fora do universo musical do Vanguart, grupo de Cuiabá (MT) que o projetou no universo pop, o cantor e compositor mato-grossense mostrou evolução como intérprete e como compositor neste disco autoral que arde na fogueira das paixões, com toques de tango. Com mais leveza, Danilo Caymmi deu voz e frescor ao cancioneiro de seu pai, um certo Dorival Caymmi (1914 - 2008), em Don don (Maravilha 8), disco gravado e assinado pelo cantor e compositor carioca com o baixista Bruno Di Lullo e com o baterista Domenico Lancellotti, expoentes da cena musical carioca. Disponível por ora somente nas plataformas digitais, nas quais chegou em 28 de agosto, Don don oferece visão contemporânea da obra de Dorival sem desfigurar as músicas do compositor baiano. Duas semanas antes, em 14 de agosto, Toni Platão jogou na rede - sem aviso prévio - seu melhor álbum, Lov (Independente), disco quente, gravado com pegada e com a produção de Berna Ceppas. Por ora também lançado somente em edição digital, Lov priorizou as canções de amor para lembrar que Platão (ainda) é um dos melhores cantores da geração roqueira revelada nos anos 1980. Embora não seja um disco perfeito, por deixar a sensação de ser longo demais, o segundo ótimo álbum de Emicida, Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa (Laboratório Fantasma / Sony Music, 2015) - lançado em agosto - merece menção honrosa por apontar e denunciar o racismo com músicas que alternam fúria e delicadeza. Se os homens deram os tons dos discos, as mulheres reinaram nos palcos. Sob a direção de Elias Andreato, a cantora paulistana Fabiana Cozza depurou seu canto, seu gestual e sua postura cênica em seu melhor show, Partir, baseado no excelente homônimo quinto álbum de Cozza Já Fafá de Belém fez seu coração assumidamente brega bater mais forte em espetáculo dirigido por Paulo Borges que amplificou o sentido do repertório extremamente popular de um álbun, Do tamanho certo para o meu sorriso (Joia Moderna), que fez a cantora paraense voltar com força à mídia e ao mercado fonográfico após anos de discos de menor expressão e quase nenhuma repercussão. Por fim, quase no apagar das luzes do trimestre, Gal Costa festejou seus 70 anos no palco com a estreia nacional de luminoso show, Estratosférica, no qual a senhora cantora baiana reitera a sintonia com a cena contemporânea - exposta no perfeito CD lançado em maio - enquanto se reflete no espelho cristalino dos momentos áureos dos seus 50 anos de carreira.

Renegado lança, pela gravadora Som Livre, EP 'Relatos de conflito particular'

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O rapper mineiro Flávio Renegado é o mais novo integrante do elenco da Som Livre, gravadora cujo elenco é dominado por artistas do segmento rotulado como sertanejo universitário. É pela gravadora carioca que o artista vai lançar oficialmente, neste mês de outubro de 2015, o EP Relatos de um conflito particular. Clique aqui para conhecer as (sete) músicas incluídas no disco.

Janaina Fellini abre sua casa, construída por Villares e adornada por Letieres

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Com capa criada pela artista gráfica Adriana Alegria a partir de ilustração de Pupillas, o segundo álbum da cantora paranaense Janaina Fellini, Casa aberta, chega ao mercado fonográfico neste mês de outubro de 2015. Produzido por Beto Villares e arranjado pelo maestro baiano Letieres Leite, o disco foi gravado com recursos obtidos no programa Rumos Itaú Cultural. A gravação foi feita ao longo de seis dias - de 19 a 25 de fevereiro deste ano de 2015 - em residência artística na chácara Asa Branca, situada em Campina Grande do Sul (PR), município do interior do Paraná. Além de produzir o disco, Villares pôs voz e violão em Árida (Janaina Fellini, Beto Villares, Estrela Leminski, Téo Ruiz e Bernardo Bravo), música composta durante a residência que gerou o disco, gravado com os músicos Alonso Figueroa (teclados e acordeom), Denis Mariano (bateria), Du Gomide (guitarra e viola), Glauco Solter (baixo) e Sérgio Monteiro Freire (sorpos). Já Letieres tocou flauta transversal em Preta (José Paes de Lira, 2006), música do repertório do extinto grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado, regravada por Janaina em Casa aberta entre duas releituras do cancioneiro do compositor paulista Itamar Assumpção (1949 - 2003) - Sutil(Itamar Assumpção, 1988) e Quem (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1996) - e inéditas como Infinito efêmero (César Lacerda) e Promessa (Bruno Capinan e Luisão Pereira). A cantora também dá voz a uma música de Gilberto Gil lançada pelo grupo Doces Bárbaros em 1976, O seu amor. Eis, na ordem do disco, as dez músicas abrigadas pela artista em Casa aberta, álbum que sucede Janaina Fellini (Independente, 2012) na discografia da cantora, que debutou no mercado fonográfico há três anos:

1. Varanda (Alessandra Leão, 2009)
2. Infinito efêmero (César Lacerda, 2015)
3. O seu amor (Gilberto Gil, 1976)
4. Promessa (Bruno Capinan e Luisão Pereira, 2015)
5. É sempre bom se lembrar (Lucas Santtana, 2012)
6. Sol das lavadeiras (Zé Manoel e Mavi Pugliesi, 2012)
7. Árida (Janaina Fellini, Beto Villares, Estrela Leminski, Téo Ruiz e Bernardo Bravo, 2015)
8. Sutil (Itamar Assumpção, 1988)
9. Preta (José Paes de Lira, 2006)
10. Quem (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1996)

Com produção de João Marcelo Bôscoli, Negra Li prepara seu primeiro DVD

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Aos 36 anos de vida, recém-completados em 17 de setembro de 2015, a rapper paulistana Negra Li já contabiliza 20 anos de carreira, iniciada informalmente em 1995 quando cantou pela primeira vez com o grupo Virtude Negra - formado com amigos do bairro Vila Brasilândia - e oficializada em 1996 com o convite para integrar o grupo paulistano de rap RZO. Para celebrar estas duas décadas em cena, a cantora e atriz prepara DVD com produção de João Marcelo Bôscoli. Em fase de pré-produção e de seleção de repertório, o primeiro DVD de Negra Li vai suceder o álbum Tudo de novo (Arsenal Music / Universal Music, 2012) na discografia solo da artista.  O projeto sai em 2016.

Com poesia e firmeza, Zélia pisa no 'terreirão' do samba em disco já clássico

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Resenha de CD
Título:Antes do mundo acabar
Artista: Zélia Duncan
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *

Antes mesmo do violão do arranjador Marco Pereira, o batuque que evoca os terreiros negros é o primeiro som ouvido no primoroso disco em que Zélia Duncan canta somente sambas, Antes do mundo acabar. Eco de tempos ancestrais, esse batuque introduz Destino tem razão, uma das três parcerias inéditas da cantora e compositora fluminense com o carioca Xande de Pilares registradas no álbum produzido por Bia Paes Leme. Destino tem razão abre um disco positivista que exalta o amor a dois e a felicidade, seja no clima pagodeiro da parceira inédita de Zélia com o bamba Arlindo Cruz - Dormiu, mas acordou (dos versos "Nosso amor foi sonhar no outro mundo, mas achou o caminho de volta"), samba típico dos nobres quintais cariocas - seja nos tom menores do poético samba Alameda de sonho, uma das duas composições assinadas por Zélia com Ana Costa, parceira de outros Carnavais. Álbum que remete ao antológico Eu me transformo em outras (Duncan Discos, 2004), disco decisivo para pôr no nome de Zélia Duncan na linha de frente da música brasileira, Antes do mundo acabar escapa da armadilha de ser mero remake deste CD de 2004 que acaba de ser relançado pela mesma gravadora Biscoito Fino que põe Antes do mundo acabar no mercado fonográfico neste mês de outubro de 2015. Até porque o repertório é essencialmente inédito e autoral, ainda que contenha quatro pérolas pescadas no baú do samba. Com sua voz grave, maturada, Zélia pisa firme no terreirão do samba cultivado nos quintais dos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Sim, ainda que Por que você não me convida agora? (Riachão, 2013) ponha o pé na roça com a manemolência baiana que caracteriza a obra do resistente soteropolitano Riachão, Antes do mundo acabaré disco pautado pelo samba carioca. Até quando discorre sobre o Brasil. Com esperança que reitera o tom positivo do disco, Zélia prega em No meu país a resolução de um Brasil ainda indeciso entre permanecer no passado e caminhar - enfim - para um futuro de "igualdade para sonhar". Parceiro de Zélia no tema, Xande de Pilares divide com a cantora a interpretação da faixa. Contudo, se o apocalipse social e afetivo for inevitável, Antes do mundo acabar - o samba-título assinado por Zélia com Zeca Baleiro, com quem firmou parceria a partir de show feito en dupla pelo Brasil  - pede com ternura uma última chance para "os sonhos impressos nos travesseiros". "Quero ser a última pele que você tocou / O amor bomba-relógio que você não desarmou", suplica a sambista no tom suave que pauta o samba-título. Terceira boa colaboração de Xande de Pilares para o repertório do disco, Olha, o dia vem aí aumenta o tom para exigir mais consideração do ser amado. Calcados em elegante interação do violão com a percussão, os arranjos de Marco Pereira agregam valor a um repertório de criação já em si bastante inspirada. Parceria de Zélia com a produtora Bia Paes Leme, Eu mudei parece um samba formatado com a nobreza e a poesia dos bambas da Velha Guarda do samba. A mesma nobreza corre nos compassos e versos de Por água abaixo, inédito samba feito para Zélia por Pretinho da Serrinha, Leandro Fab e Fred Camacho, mas que bem poderia ser de Candeia (1935 - 1978) ou de Cartola (1908 - 1980). Os versos sobre um amor desfeito apontam no fim o caminho da esperança. "Tristeza mudou de endereço aquele dia / Sabia, se  mandou de lá / (Parei de chorar) / Não tem mais lugar / viciei nessa alegria", festeja Zélia na faixa seguinte, Pra quem sabe amar, outro belo samba feito com a parceira Ana Costa, convidada da faixa que prega poesia na caminhada da vida, na cadência bonita do samba ("O samba inventou nossas asas"). E por falar em poesia, a regravação de Em cada canto, uma esperança (1978) reitera a sintonia perfeita entre a melodia de Ivone Lara com os versos melancólicos, mas geralmente esperançosos, de seu principal parceiro, Délcio Carvalho (1939 - 2013). Revivido com precisão por Beth Carvalho no álbum Nosso samba tá na rua (Andança / EMI Music, 2011), essa ode ao samba como alento para tempos difíceis é das composições mais inspiradas da dupla e ganha um belo registro de Zélia. Na sequência, Um final - parceria inédita de Zélia com Pedro Luís, carioca bamba na composição de vários gêneros musicais - mantém o alto nível do repertório ao lamentar o término de amor encerrado sem desfecho feliz. É o samba mais melancólico do disco, mas, em seguida, Pintou um bode (1989) - inusitada regravação do repertório nobre de Paulinho da Viola - restaura o clima positivo no qual se ambienta o samba de Zélia, soprando descontração. Por fim, a recriação delicada de Vida da minha vida (Moacyr Luz e Sereno) - feita no tom de uma seresta íntima - renova o samba que batizou disco lançado há cinco anos por Zeca Pagodinho. Encerrado na edição digital com regravação de Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973), samba ora propagado diariamente em escala nacional na voz de Alcione na abertura da novela A regra do jogo (TV Globo, 2015), Antes do mundo acabaré um clássico instantâneo da discografia nacional. Um álbum no qual Zélia corre e vence riscos ao se transformar - mais uma vez - em outra cantora. No caso, uma cantora sambista que se prova do ramo ao pisar no terreirão brasileiro com firmeza, nobreza, poesia e (uma insuspeita) propriedade.

Buchecha promove 'Funk pop' - CD feito com Kassin - com inédita e 'Só love'

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Um dos pioneiros do funk pop, Buchecha - nome artístico do cantor e compositor fluminense Claucirlei Jovêncio de Souza - enfatiza esse real pioneirismo já no título do sexto título de sua discografia solo, Funk pop. Álbum produzido por Kassin e programado para ser lançado em novembro de 2015, Funk popé álbum que festeja os 40 anos de vida do artista e os 20 anos do aparecimento da dupla Claudinho & Buchecha, formada em 1995 em São Gonçalo (RJ) e desfeita em 2002 com a morte de Cláudio Rodrigues de Matos (1975 - 2002), o Claudinho. Em Funk pop, Buchecha revive os principais sucessos da dupla de funk melody com nomes como a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto, a cantora e compositora carioca Paula Toller, o trio carioca Paralamas do Sucesso - convidado da regravação de Só love (Buchecha, 1998) - e o cantor e compositor pernambucano Lenine, com quem faz dueto em Conquista (Buchecha, 1996). Mas o repertório insere algumas músicas inéditas entre os hits dos anos 1990 e 2000. Uma delas - Vem cá fazer um love, já em rotação no YouTube e na trilha sonora do filme Vai que cola, em cartaz nos cinemas desde ontem, 1º de outubro de 2015 - promove o álbum ao lado da regravação de Só love.

Eis a capa e as (14) músicas do terceiro álbum de estúdio de Anitta, 'Bang!'

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Com capa pop assinada pelo diretor de arte Giovanni Bianco, o terceiro álbum de estúdio de Anitta, Bang!, chega ao mercado fonográfico a partir de 13 de outubro de 2015 em edição da Warner Music. Previsto de início para ter sido lançado em setembro, o disco foi precedido pela edição do singleDeixa ele sofrer (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares), música incluída no álbum em duas versões, a original e a acústica que fecha Bang!. No disco, gravado com convidados como o grupo carioca de rap Cone Crew (na faixa Sim), o rapper paulistano Dubeat (em Gosto assim) e o funkeiro carioca Nego do Borel (em Pode chegar), a cantora e compositora carioca de funk pop dá voz a 14 músicas. Eis - na ordem do álbum de repertório pop - as 15 faixas de  Bang!:

1. Bang
2. Deixa ele sofrer
3. Cravo e canela - com Vitin
4. Parei
5. Essa mina é louca - com Jhama
6. Atenção
7. Gosto assim - com Dubeat
8. Show completo
9. Volta amor
10. Sim - com Cone Crew
11. Pode chegar - com Nego do Borel
12. Eu sou do tipo
13. Deixa a onda te levar
14. Me leva a sério
15. Deixa ele sofrer - versão acústica

Inédita de Caetano promove álbum solo em que Lomelino canta Calcanhotto

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Com o heterônimo de Mãeana, a cantora e compositora carioca Ana Cláudia Lomelino lança seu primeiro álbum solo em 23 de outubro de 2015, em edição da gravadora Joia Moderna. A partir da próxima terça-feira, 6 de outubro, o singleNão sei amar - composição inédita de Caetano Veloso, feita para o disco da artista - entra em rotação na web. Em seu disco solo, a vocalista do grupo carioca Tono também canta inédita de Adriana Calcanhotto e grava parceria sua com Domenico Lancellotti, Pérola-poesia, lançada na web em abril de 2014 (clique aqui para ver a letra do tema).

Eis a capa e as 12 músicas inéditas de 'Vidas pra contar', 23º disco de Djavan

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Esta é a capa de Vidas pra contar, o 23º álbum gravado por Djavan para o mercado fonográfico brasileiro. Com lançamento programado para 6 de novembro de 2015, em edição da Sony Music, o disco apresenta 12 músicas inéditas de autoria do cantor e compositor alagoano. Uma delas, Não é um bolero, já entrou em rotação na web e nas rádios em 29 de setembro. As demais nunca tinham sido reveladas. Eis, na ordem do álbum, as 12 músicas gravadas por Djavan em  Vidas pra contar:

1. Vida nordestina
2. Só pra ser o sol
3. Encontrar-te
4. Primazia
5. Ânsia de viver
6. O tal do amore
7. Aridez
8. Vidas pra contar
9. Enguiçado
10. Se não vira jazz
11. Dona do horizonte
12. Não é um bolero

Eis a capa do primeiro DVD de Maria Alcina, gravado com Ney e Karina Buhr

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Esta é a capa do primeiro DVD da cantora mineira Maria Alcina, De normal bastam os outros, batizado com o mesmo título do álbum lançado em janeiro de 2014. Produzido por Thiago Marques Luiz, assim como o disco, o DVD exibe o show gravado em 6 de julho de 2014 em apresentação da artista no Auditório Ibirapuera, em São Paulo (SP). O DVD será lançado pela gravadora Nova Estação, com distribuição da Eldorado, em novembro de 2015, mês em que o Canal Brasil (parceiro na produção) exibirá o show. Karina Buhr participa do DVD em Cocadinha de sal (2014), música de sua autoria, feita para o CD de Alcina. Felipe Cordeiro entra em cena em Fogo da morena (2011), composição de sua lavra. Já Anastácia reforça Concurso de bichos, parceria sua com Liane, lançada por Alcina no CD De normal bastam os outros. Já o dueto com Ney Matogrosso em O bigorrilho (Paquito, Sebastião Gomes e Romeu Gentil, 1963) - sucesso do cantor carioca Jorge Veiga (1910 - 1969) no Carnaval de 1964 - entra nos extras do DVD, em clipe filmado sob direção de Rafael Saar.

Baterista do Barão, Goffi lança seu segundo disco solo, 'Bem', ainda em 2015

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Baterista da formação original do ora desativado grupo carioca Barão Vermelho, Guto Goffi lança seu segundo álbum solo, Bem, neste último trimestre de 2015. Bem sucede o autoral álbum duplo Alimentar (Independente, 2012) na discografia solo do músico e compositor carioca.  CD é autoral.

Aos 86 anos, Angela Maria parece realmente à vontade com violão de Rayol

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Resenha de CD
Título:Angela à vontade em voz & violão
Artista: Angela Maria
Gravadora: Nova Estação /Tratore 
Cotação: * * * *

Quando estava no auge vocal, com poderosos agudos propagados pelas ondas nacionais do rádio dos anos 1950, Angela Maria gravou discos em que orquestrações pomposas disputavam espaço com sua privilegiada voz de mezzo-soprano. Aos 86 anos, completados em 13 de maio deste ano de 2015, a icônica cantora fluminense arrisca um formato de voz & violão inédito em sua discografia. Em Angela à vontade em voz & violão, álbum acústico produzido por Thiago Marques Luiz para sua gravadora Nova Estação, o espaço é dividido somente pela voz da intérprete - mais voltada para os tons graves que se afinam com seu tempo de maturidade  - e pelo violão de Ronaldo Rayol. Quem ouvir o disco na esperança vã de ouvir a Angela de outrora vai certamente se decepcionar. Mas quem ouvir sem nostalgia o CD - já distribuído nas lojas pela Tratore - vai se deparar com uma senhora cantora, certeira nas interpretações e intenções de músicas como os sambas-canção Só louco (Dorival Caymmi, 1955) e Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952). O repertório - esse, sim, selecionado com saudosismo - deixa a artista em zona sempre confortável, sem conexões com artistas do tempo presente. A composição mais recente do álbum, Codinome beija-flor (Cazuza, Reinaldo Árias e Ezequiel Neves, 1985), já foi lançada há 30 anos. Enfim, o universo musical do repertório do disco já é velho conhecido de Angela, mesmo que algumas músicas - casos do samba-canção Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951) e de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959), entre outras - nunca tivessem até então sido registradas em disco pela cantora. E o fato é que Angela Maria, aos resistentes 86 anos, está realmente à vontade ao lado do violão de Ronaldo Rayol. Músico habilidoso, Rayol consegue simular com as cordas em Retalhos de cetim (Benito Di Paula, 1973) o suave batuque de um samba triste. Com a mesma habilidade, Rayol envolve o samba-canção Quase (Mirabeau e Jorge Gonçalves, 1954) em clima de fado. O disco somente perde pontos quando a Angela Maria do presente outonal evoca inevitavelmente a Angela Maria do passado glorioso. Amendoim torradinho (Henrique Beltrão, 1954) - música que a Sapoti não lançou, mas que deixou eternamente associada ao seu canto a partir de gravação de 1958 - já foi saboreado com mais sal pela cantora. Da mesma forma, Vá, mas volte (Wando, 1976) - último grande sucesso popular da vasta discografia da artista - permanece imbatível no registro propagado em escala nacional na trilha sonora da novela Duas vidas (TV Globo, 1976). De todo modo, o bonito álbum Angela à vontade em voz & violão atesta a impressionante longevidade alcançada por voz icônica, rara sobrevivente da dourada era do rádio.
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